Tudo na mesma, tudo diferente
Na essência nada
distingue Isso É Tudo Muito Bonito, mas, o espaço dos Gato Fedorento em
2015, do que foi feito em 2011 na SIC e a que chamaram na altura
Esmiuça os Sufrágios. Há quatro anos existia o efeito novidade e o
programa tinha uma existância própria, não estando literalmente dentro
do noticiário como sucede agora. Fazia mais sentido, não porque o
público seja estúpido e não distinga mas porque a marca se esbate. As
audiências medidas em televisão foram então superiores e, mesmo já sendo
na época um fenómeno no You- Tube, é preciso olhar hoje para um
conteúdo destes em grande medida pelo que ele vale fora da caixa. Nesse
aspeto, a TVI tem feito um trabalho exemplar. O povo faz o resto.
1.
A novela da SIC, Mar Salgado, chegou ao fim com o impressionante número
de um milhão e 900 mil espectadores, que correspondem a quota de
mercado de 42,8 %. São números de uma TV que existe porque, apesar de
tudo estar em mudança no mercado português, há pelo menos duas décadas
que três milhões de pessoas consomem novelas no horário nobre. E na
sexta-feira assim foi uma vez mais. A SIC, com o último episódio da sua
novela, superou largamente a TVI, mas no conjunto os espectadores foram
os mesmos, apenas alguns milhares mudaram de canal para verem o final da
trama. O episódio de sexta--feira é o sétimo programa da temporada,
sendo os seis primeiros jogos de futebol. Nesta contabilidade não está o
debate Passos Coelho-António Costa emitido em condições excecionais de
mercado.
Mar Salgado fez um percurso excelente na linha de Sol de
Inverno ou de Dancin" Days, com a diferença de que nos últimos meses a
ficção da TVI voltou a ficar mais forte e, com a Única Mulher, ameaçou e
bateu mesmo pontualmente a SIC. Mas a regra foi Mar Salgado liderar ao
longo de um ano de emissão - 325 episódios, um exagero que só se
justifica pela necessidade que os canais privados, e a própria RTP, têm
em rentabilizar os seus produtos, leia-se baixar custos.
O
facto é que a novela manteve uma audiência constante: chegou em média a
1,4 milhões de espectadores com mais de 30% de share. A história teve
em geral bons desempenhos mas é preciso destacar Margarida Vila Nova,
que, sendo desde sempre uma atriz com talento, exibiu uma maturidade que
emprestou à sua personagem uma invulgar densidade em TV. Ricardo
Pereira também cresceu muito e nota-se o efeito Globo no seu trabalho.
Mar Salgado trouxe também uma nova guionista, Inês Gomes. A equipa que
trabalha diretamente com ela não lhe poupa elogios. O espectador, ao
seguir a sua história com tanta atenção, também não e isso é o mais
importante.
2. No Brasil e pela primeira vez uma novela da
Record, os Dez Mandamentos, está a bater uma novela da Globo, a
recém-estreada A Regra do Jogo, que está a caminho de Portugal. Há duas
nuances: as novelas não estão no ar rigorosamente no mesmo horário e tem
havido contraprogramação feroz. Ainda assim parece um tempo novo. Os
Dez Mandamentos é a primeira novela bíblica, A Regra do Jogo uma novela
contemporânea do excelente autor João Emanuel Carneiro. A primeira apela
a um auditório conservador, a segunda dirige-se a toda a gente num país
que está socialmente à deriva e que tem dificuldade em ver-se ao
espelho. Já para não falar na perda de espectadores que, atingindo a TV
generalista, afeta mais a Globo.
IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
20/09/15
.
Sem comentários:
Enviar um comentário