O fim da sua carreira
em 140 caracteres
Ethan Czahor. Reconhece este nome? Foi o mago das redes sociais
contratado por Jeb Bush para tomar conta da sua candidatura no mundo
virtual. Contratado e despedido 24 horas depois por causa de um tweet.
O
que aconteceu, já o contei nesta coluna, nem sequer teve que ver com a
campanha propriamente dita - passou-se na sua conta pessoal, aliás,
meses antes de sequer sonhar ser escolhido e contatado por Bush. É que
Czahor, só ele sabe porque razão, decidiu dizer mal de um dos feriados
preferidos dos americanoa, o Halloween. E não contente, enquanto o
fazia, no seu Twitter, cuspiu em cima das mulheres - dizia ele que o
Halloween era o feriado em que as mulheres sem autoestima se vestiam
como prostitutas.
E foi assim que um desabafo pessoal de 140
caracteres acabou com o que podia ter sido uma brilhante carreira na
política: assim que o seu nome saiu associado à campanha de Jeb Bush,
alguém recuperou o tweet e pô-lo a circular nas redes sociais. O que
acabou por chegar aos jornais e provocar a ira de muitos americanos -
não necessariamente por esta ordem.
Czahor não ficou na miséria e
na escuridão - antes soube aproveitar os amargos limões do momento e
lançou uma app que controla aquilo que cada um diz nas redes sociais,
filtrando, a pedido do seu dono, conteúdo potencialmente ofesivo que o
próprio esteja prestes a publicar. Mas nem todos têm semelhante sorte e
engenho.
Serve a história de âncora para uma realidade cada vez
mais relevante: aquilo que escreve nas redes sociais tem influência na
sua vida profissional. Tem mesmo. Não importa se aquelas páginas são
estritamente pessoais ou mesmo que filtre 30 vezes aqueles que a elas
têm acesso. Se os conteúdos forem suficientemente importantes para
irritar alguém, vão encontrar meio de sair da privacidade e espalhar-se à
velocidade da luz. E uma vez cá fora, não há como voltar a fechar a
caixa.
A verdade é que legalmente não há muitos casos em que um
tweet possa levar ao despedimento. Mas isso é fraco consolo para quem
sofre os efeitos de uma gaffe no trabalho: pressões, ainda que
indirectas, repreensões, atrasos na progressão na carreira são apenas
alguns.
Por outro lado, as redes sociais são já neste momento uma
ferramenta de uso comum entre os recrutadores. O que pode levá-lo a
imaginar que, depois de dizer diariamente mal de hambúrgueres, a
McDonalds vai contratá-lo para trabalhar na sua equipa de Relações
Públicas? Ninguém vai dizer-lho, você nem chegará a saber que foi o que
escreveu no Facebook e no Twitter que impediu que fosse chamado para uma
entrevista, já que o seu currículo era exactamente o que era preciso.
Mas nunca porá os pés na empresa.
A solução é rejeitar as redes
sociais? Não. Até porque estas podem servir também como incentivos
positivos em muitas circunstâncias. Mas talvez seja boa ideia pensar
antes de escrever. Ninguém está a sugerir uma forma de censura. Porém
usar um diário à antiga, de papel e caneta, em vez de vomitar online os
seus sentimentos e impressões mais violentos talvez não seja mal
pensado.
E evita as dores de quem se expõe demasiado ao mundo.
Subdirectora do Diário de Notícias
IN "DINEIRO VIVO"
16/09/15
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