24/09/2015

JOANA PETIZ

.





O fim da sua carreira 
em 140 caracteres

Ethan Czahor. Reconhece este nome? Foi o mago das redes sociais contratado por Jeb Bush para tomar conta da sua candidatura no mundo virtual. Contratado e despedido 24 horas depois por causa de um tweet.

O que aconteceu, já o contei nesta coluna, nem sequer teve que ver com a campanha propriamente dita - passou-se na sua conta pessoal, aliás, meses antes de sequer sonhar ser escolhido e contatado por Bush. É que Czahor, só ele sabe porque razão, decidiu dizer mal de um dos feriados preferidos dos americanoa, o Halloween. E não contente, enquanto o fazia, no seu Twitter, cuspiu em cima das mulheres - dizia ele que o Halloween era o feriado em que as mulheres sem autoestima se vestiam como prostitutas.

E foi assim que um desabafo pessoal de 140 caracteres acabou com o que podia ter sido uma brilhante carreira na política: assim que o seu nome saiu associado à campanha de Jeb Bush, alguém recuperou o tweet e pô-lo a circular nas redes sociais. O que acabou por chegar aos jornais e provocar a ira de muitos americanos - não necessariamente por esta ordem.

Czahor não ficou na miséria e na escuridão - antes soube aproveitar os amargos limões do momento e lançou uma app que controla aquilo que cada um diz nas redes sociais, filtrando, a pedido do seu dono, conteúdo potencialmente ofesivo que o próprio esteja prestes a publicar. Mas nem todos têm semelhante sorte e engenho.

Serve a história de âncora para uma realidade cada vez mais relevante: aquilo que escreve nas redes sociais tem influência na sua vida profissional. Tem mesmo. Não importa se aquelas páginas são estritamente pessoais ou mesmo que filtre 30 vezes aqueles que a elas têm acesso. Se os conteúdos forem suficientemente importantes para irritar alguém, vão encontrar meio de sair da privacidade e espalhar-se à velocidade da luz. E uma vez cá fora, não há como voltar a fechar a caixa.

A verdade é que legalmente não há muitos casos em que um tweet possa levar ao despedimento. Mas isso é fraco consolo para quem sofre os efeitos de uma gaffe no trabalho: pressões, ainda que indirectas, repreensões, atrasos na progressão na carreira são apenas alguns.

Por outro lado, as redes sociais são já neste momento uma ferramenta de uso comum entre os recrutadores. O que pode levá-lo a imaginar que, depois de dizer diariamente mal de hambúrgueres, a McDonalds vai contratá-lo para trabalhar na sua equipa de Relações Públicas? Ninguém vai dizer-lho, você nem chegará a saber que foi o que escreveu no Facebook e no Twitter que impediu que fosse chamado para uma entrevista, já que o seu currículo era exactamente o que era preciso. Mas nunca porá os pés na empresa.

A solução é rejeitar as redes sociais? Não. Até porque estas podem servir também como incentivos positivos em muitas circunstâncias. Mas talvez seja boa ideia pensar antes de escrever. Ninguém está a sugerir uma forma de censura. Porém usar um diário à antiga, de papel e caneta, em vez de vomitar online os seus sentimentos e impressões mais violentos talvez não seja mal pensado.
E evita as dores de quem se expõe demasiado ao mundo.

Subdirectora do Diário de Notícias

IN "DINEIRO VIVO"
16/09/15

.

Sem comentários: