O vazio como política
As propostas de
Hollande para a criação de uma vanguarda política dentro da zona euro,
formada pelos seis países iniciais da CECA (Comunidade Europeia do
Carvão e do Aço), foram recebidas, para ser benevolente, com um
incomodado silêncio por parte dos governos de toda a União Europeia. A
proposta tem ideias antigas (instituir uma governação económica), e
novas (ressuscitar a Comunidade dos Seis). O problema é que no seu
conjunto o resultado é lamentável.
Numa caricatura, poderia dizer-se que
o ministro Schäuble tinha proposto a saída de um país da zona euro
(sendo corrigido pela chanceler e pelo Bundestag). Paris parece propor
acentuar a divisão na zona euro, separando um diretório de seis e uma
periferia cinzenta de 13 membros (incluindo aí a Espanha, a Áustria e a
Finlândia...). Esquecendo completamente a Grã-Bretanha e os países da UE
não aderentes ao euro. A proposta de Hollande inquieta pelo vazio, pela
ausência de pensamento estratégico consistente. Um país com a história
de França. Com assento permanente no Conselho de Segurança da ONU. Com
uma force de frappe nuclear que a torna uma força militar temível, não
deveria fazer propostas que causam um calafrio na espinha dos seus
parceiros.
Não se pode criticar a solidão alemã na gestão da crise
europeia, apenas para pedir que Berlim se encoste para o lado para que
mais cinco se sentem na fila da frente, quando o que seria necessário
seria mudar de rumo e de método. Por este caminho, Hollande arrisca--se,
por iniciativa e demérito próprios, a deixar o PSF no estado do PASOK
grego. Só que em vez do Syriza, o legado da derrocada socialista gaulesa
poderá ser a Frente Nacional. E contra isso a integração europeia não
conhece qualquer espécie de antídoto.
IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
28/07/15
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