03/07/2015

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HOJE NO
 "JORNAL DE NEGÓCIOS"

Lidl recebeu mais de 800 millhões
 em apoios do Banco Mundial

Banco Mundial e Banco Europeu para a Reconstrução e Desenvolvimento financiaram expansão de duas cadeias de supermercado alemãs. Justificação: criava emprego e disponibilizava produtos de qualidade a preços acessíveis. 
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Durante os últimos 10 anos, as cadeias alemãs de supermercados Lidl e Kaufland (ambas do grupo Schwarz) receberam mais de 800 milhões de euros do Banco Mundial (BM) e do Banco Europeu para a Reconstrução e o Desenvolvimento (BERD).

Com uma linha de acção específica que visa estimular o crescimento e desenvolvimento económico local e redução da pobreza global como matriz para as duas instituições, a decisão de financiamento destas instituições a duas empresas que integram uma gigante de retalho alemã, Schwarz Group, chamou a atenção dos media, sem que fosse, contudo, detectada alguma irregularidade na transferência.

Confrontadas, as instituições justificaram os apoios dados durante uma década: o financiamento iria ajudar as empresas na sua expansão pela Europa Central e do Leste e consequentemente aumentar o número de postos de trabalho, ajudando os produtores locais a encontrarem novos mercados e garantindo a consumidores com menor poder de compra "comida de boa qualidade a preços acessíveis".

"Esta ideia de que uma injecção de capital para as multinacionais levará necessariamente a um bom e sustentável crescimento tem sido provada como falsa ao longo dos últimos 20 anos", acredita Luiz Vieira, coordenador do Projeto Bretton Woods, uma organização não-governamental britânica que supervisiona o Banco Mundial e que não aceita os argumentos apresentados pelos dois bancos.

Para Jan Czarzasty, professor de Economia em Varsóvia, a estratégica não só é errada como agravada pelo chocante valor recebido pelo grupo Schwarz. "O grupo abre novas lojas em todo o lado. Vêm a público histórias sobre as condições de trabalho e a satisfação dos funcionários é geralmente baixa", critica.

Primeiro apoio foi dado em 2004
De acordo com os registos, a primeira transferência da Corporação Financeira Internacional (CFI), responsável pelo investimento em empresas privadas e ao serviço do Banco Mundial, foi efectuada em 2004, com uma transferência de 90 milhões de euros ao grupo Schwarz. No mesmo ano, um relatório elaborado por uma organização sindical alemã colocava a multinacional Lidl na lista de empresas alvo de denúncias de violações do direito do trabalho.

Cinco anos depois é feita uma nova transferência, no valor de cerca de 68 milhões de euros para expandir o supermercado Kaufland na Bulgária e Roménia. Em 2011 é o Lidl que arrecada cerca de 60 milhões de euros. Já em 2013, o valor ascende para os 94 milhões de euros. No total, a Corporação Financeira Internacional foi responsável pelo investimento de mais de 316 milhões de euros. Já o Banco Europeu para a Reconstrução e o Desenvolvimento financiou as duas empresas com mais de 631 de milhões de euros.

Apesar de a CFI afirmar que este investimento tornou possível a "criação de novos canais para os agricultores locais fornecerem os seus produtos e garantir aos consumidores um maior acesso a uma selecção mais acessível e diversificada de produtos alimentares de alta qualidade", Luiz Vieira convida as instituições a apresentarem provas concretas dos efeitos benéficos do investimento.

"Sendo instituições públicas a operar com dinheiro público a transparência deve ser o ponto de partida. Sem isso não há garantias de que não existirão impactos negativos", desafia. A CFI e o BERD admitem regular os seus investimentos mas classificam as informações sobre o número de empregos gerados como "comercialmente sensíveis e confidenciais".

Se, por um lado, a criação de emprego é um dos argumentos usados para justificar o investimento público, as acusações sobre um resultado oposto chegam por parte dos pequenos comerciantes, que se queixam de que o surgimento destes supermercados veio piorar a já frágil situação do comércio tradicional, destruindo postos de trabalho e meios de subsistência.

* Empresas alemãs né? Por isso o dinheiro é caro para os países periféricos da europa e do terceiro mundo.

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