HOJE NO
"DIÁRIO ECONÓMICO"
"DIÁRIO ECONÓMICO"
A carta em que os economistas
europeus pedem o "whatever it takes" político à Europa
Leia aqui a carta que Vítor Bento e outros economistas enviaram aos presidentes da Comissão Europeia, do Parlamento Europeu, do Conselho Europeu, do Banco Central Europeu e do Eurogrupo
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Carta aberta aos Presidentes da Comissão Europeia, do Parlamento
Europeu, do Conselho Europeu, do Banco Central Europeu e do Eurogrupo
Caros Presidentes,
No próximo Conselho Europeu de junho vão
apresentar um Relatório crucial sobre a reforma da União Económica e
Monetária que irá definir a agenda política da integração europeia para a
atual legislatura. Podem basear-se experiência bem sucedida da
integração europeia, cujo núcleo se baseia numa partilha pacífica de
soberania através de instituições democráticas supranacionais. Devem
aprender com as lições que retiramos da crise: não podemos viver com um
mercado único com uma moeda única, mas com 19 políticas económicas e
orçamentais diferentes. O reconhecimento da insustentabilidade a longo
prazo desta assimetria levou os vossos predecessores a fixar como
objetivos da União a criação de uniões bancária, orçamental, económica e
política no relatório de Dezembro de 2012 "Rumo a uma verdadeira União
Económica e Monetária".
Os cidadãos europeus esperam a adoção de uma visão clara e ambiciosa
para o futuro da Europa que inclua um roteiro e um cronograma para
alcançar essas uniões e obter uma UE mais efetiva e democrática. A
intervenção determinada do BCE diminuiu a pressão dos mercados, mas a
UEM assemelha-se agora a uma criança perdida de que ninguém quer cuidar.
Desde 2012, a ausência de vontade política dos Estados Membros apenas
permitiu progressos significativos no âmbito da união bancária. No
entanto, a crise pode novamente piorar se não forem feitos progressos
nas restantes uniões. Mecanismos de emergência como o MEE devem ser
integrados na UE através da sua transformação num Fundo Monetário
Europeu gerido por um dos Vice-Presidentes da Comissão que deve também
ser o Presidente do Eurogrupo. O Fundo Monetário Europeu deve ter uma
capacidade orçamental e de endividamento baseada em recursos próprios,
pelo menos para a zona do Euro, e estar submetido a um controlo
democrático efetivo por parte do Parlamento Europeu. Isto é essencial
para alcançarmos uma política económica europeia, para garantirmos
investimentos que restaurarem o crescimento, bem como para passarmos de
uma solidariedade entre Estados para uma solidariedade entre cidadãos.
A crise revelou a ineficácia da mera coordenação de políticas
económicas e orçamentais e a paralisia criada pela unanimidade. Os
Estados Membros têm agora mais limitações orçamentais do que teriam num
sistema federal, mas sem beneficiarem de um orçamento federal e de
políticas federais. Por esta razão, a crise tem-se arrastado na Europa. A
adoção de uniões bancária, fiscal, orçamental e política é necessária
para colocar a União no caminho do crescimento económico e da
prosperidade social. Uma integração diferenciada pode acomodar o
aprofundamento da zona Euro com o desejo de alguns Estados Membros
reduzirem o seu nível de integração, mas sem lhes dar um poder de veto
sobre as necessidades dos cidadãos europeus.
Desde 2008, a mudança estrutural estratégica dos Estados Unidos da
América para o Pacífico criou um vácuo de poder que fomenta
instabilidade em toda a Europa, desde o Leste até ao Sul. A Europa deve
deixar de ser um consumidor para passar a ser um produtor de segurança.
Só Estados continentais - como os Estados Unidos, a China, a Rússia, a
Índia, o Brasil - têm relevância num mundo global. A UE deve caminhar
rumo a uma união política com única política externa, de segurança e de
defesa que assuma como propósito estabilizar a sua vizinhança e lidar
com as ameaças e desafios geopolíticos atuais. O início de uma
cooperação estruturada permanente de defesa é algo que depende de
vontade política, não de recursos, uma vez que os países do Euro-Plus
têm o 2ª maior orçamento mundial no domínio militar.
As palavras do Presidente Draghi "whatever it takes" foram cruciais
durante o pico da crise. O vosso relatório deve ser o "whatever it
takes" político de todas as instituições da UE. Deve definir um roteiro e
um cronograma claro para a finalização da união bancária e para a
adoção das uniões fiscal, orçamental e política até ao fim da
legislatura Europeia. Se for necessário alterar os Tratados, que assim
seja.
Os cidadãos necessitam de uma visão e de um caminho para uma Europa
baseada na democracia, solidariedade e subsidiariedade. Nada mais poderá
recuperar a sua confiança na União. A alternativa será o alastrar da
perceção social de um inevitável e irreversível declínio, o qual fomenta
o populismo, o nacionalismo e a xenofobia. A liderança implica
responsabilidade perante os cidadãos de hoje e do amanhã. Os europeus
contam com a vossa liderança, responsabilidade e visão para os tirarem a
eles e à União desta crise.
Carta subscrita por: Vítor Bento; Enrique Baron Crespo; Lorenzo
Bini Smaghi; John Bruton; Carlos Closa; Anna Diamantopoulou; Sergio
Fabbrini; Franco Gallo; Anthony Giddens; Pascal Lamy; Jean-Victor Louis;
Claus Offe; Antonio Padoa Schioppa; Gianfranco Pasquino; Gian Enrico
Rusconi; Vivien Schmidt; Zvetlan Todorov; Jose Ignacio Torreblanca;
Alexander Trechsel; Lukas Tsoukalis; Nadia Urbinati, entre outros.
* Fica a informação
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