Além da troika
A direita festeja amanhã o adeus à troika, com Pedro
Passos Coelho e Paulo Portas em busca da vitória que as sondagens
ameaçam perdida. Um ano após termo-nos livrado do "protectorado" - como o
líder do CDS tanto gosta de dizer - a coligação que governou o país num
cenário de inferno ameaça ir para a campanha eleitoral sem conseguir
esquecer a troika.
O risco de "voltar para trás" e de "deitar tudo a perder"
é a sua principal bandeira. E se mais não vier, será triste e
poucochinho. Ainda que chegue para ganhar. Um país com medo não cresce. E
o medo como arma eleitoral, além de menorizar os eleitores, contradiz o
que Passos e Portas prometeram - que iriam governar além da ‘troika'.
Isso mesmo. Essa frase maldita, que meio mundo usou como lhe convinha
para fazer da direita o papão que queria mais austeridade do que os
senhores do FMI, pode ser, afinal, a luz ao fundo do túnel. Se houver
coragem política e se a coligação tiver engenho, ousadia e arte para
alinhar um programa que seja, verdadeiramente, um virar de página. Se
Passos e Portas forem capazes de fazer crer que o que interessa é tudo
aquilo que, com a ‘troika', não puderam fazer.
Há reformas que ninguém faz em situação de emergência - a do Estado é
uma delas, por muito que Eduardo Catroga sugira o contrário. E
requalificar os serviços públicos exige incentivos, seja através de uma
crescente aposta na educação e formação, seja num crescente recrutamento
por mérito, que só serão possíveis com a melhoria da situação
financeira do país.
Se quer dar luta ao programa que António Costa saberá servir aos
eleitores, de costas viradas para a cartilha da austeridade que já
ninguém quer ouvir, a direita tem de arriscar prometer. Não os bolsos
cheios num piscar de olhos. Mas prometer que, com os cofres cheios
apregoados pelas Finanças, há finalmente condições para o país
desencalhar.
Ameaçar que um Governo PS pode trazer novo resgate é curto. Dizer que
as promessas de Costa voltam a chamar a ‘troika' cheira a conto de
crianças. E manter um discurso temerário - para não dizer piegas - de
quem continua a pedir licença para respirar fundo, não dá. Desmontar a
aparente ousadia do líder socialista, que promete enfrentar a cortina de
ferro da Europa de espada em punho, não se faz a olhar para trás e a
gritar que vem aí o papão. O confronto só ganha se se olhar para a
frente. Com a coragem de dizer que ‘troika' nunca mais. O país agradece.
IN "DIÁRO ECONÓMICO"
15/05/15
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