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"DIÁRIO DE NOTÍCIAS
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DINHEIRO VIVO"
Tem a certeza que quer
comprar uma arma?
Ouça as histórias que João Coutinho tem para lhe contar
Há uma loja no Lower East Side de Manhattam que tem armas para
vender. Armas com uma história. Como a de uma criança de dois anos que
estava no Walmart, abriu a bolsa da mãe, encontrou um revólver e atirou
acidentalmente sobre a mãe, matando-a.
Esta é uma de nove
histórias reais que português João Coutinho, diretor criativo da Grey de
Nova Iorque, está a contar na campanha para a ONG States United to
Prevent Gun Violence. "A nossa ideia tem como target pessoas que querem
comprar armas e que acreditam que uma arma as torna mais seguras", diz
em declarações ao Dinheiro Vivo. O objetivo é "faze-las pensar duas
vezes. É constante as tragédias que envolvem armas, muitas vezes
compradas para proteção", acrescenta.
Das 100 armas disponíveis na loja, os compradores foram confrontados no
momento da compra com as histórias envolvendo armas com as mesmas
características. Como a história de "um miúdo de 5 anos que encontrou um
revólver no quarto dos pais e matou o irmão bebé com nove meses; ou a
miúda de 9 anos que foi ao campo de tiro com o pai, e ao disparar a Uzi,
o impacto foi tão forte que ela não conseguiu agarrar a arma e matou o
instrutor; ou então o Adam Lanza, que foi à coleção de armas da mãe e
matou mais de 20 pessoas na escola, em Sandy Hook, Connecticut", relata o
diretor criativo, que faz dupla com Marco Pupo.
A obsessão norte-americana com armas pode parecer estranha aos olhos
de um europeu, mas os números divulgados pela States United to Prevent
Gun Violence dão conta da dificuldade em quebrar com esse ciclo. De
acordo com um recente inquérito, seis em cada dez norte-americanos
acredita que ter uma arma torna a sua casa mais segura.
As
histórias contadas em Guns with History até podem parecer ter saídas de
um filme, mas são reais. Tragédias recentes. E é esse lado inseguro e
trágico com que os compradores são confrontados quando entram na loja em
Nova Iorque. "Abrimos a loja no início de março em Lower East Side
Manhattan. O realizador [Andrew Lane] é um especialista em câmaras
escondidas - fez Whopper Freakout, Carrie Prank e Melting Pot
da MTV, entre outras campanhas - tínhamos seis câmaras na loja e uma cá
fora, escondida num furgão. Um ator (fantástico) e clientes que iam
comprar uma arma pela primeira vez. Pessoas que queriam comprar ou
estavam indecisas em comprar uma arma", descreve João Coutinho.
O efeito choque com a realidade teve um impacto profundo. "Mais de
65% saíram da loja sem querer mais comprar uma arma", diz o criativo
português. Mas não em todos. "Havia outros que rebatiam sempre as
histórias com argumentos de defesa das armas: 'guns don't kill people,
people do" [as armas não matam, as pessoas]."
E as reações não se
fizeram tardar nas redes sociais. Dividem-se entre os que consideram que
a ação é 'life changing' (mudou a sua perceção de vida) e os outros que
contestam a abordagem. O site American Freedom Fighters,descreve a experiência da loja como tendo traumatizado os clientes, por exemplo.
A
iniciativa pro bono da Grey de Nova Iorque começou a ser trabalhada
desde novembro. Cinco meses, muitas reuniões e muita burocracia depois
para conseguir abrir (mesmo que temporariamente) uma loja de armas em
Nova Iorque, onde há apenas uma loja e "é muito antiga". "As pessoas
pensam que compram uma arma por segurança, e que não lhes vai acontecer
nada, que é só para proteção. Todas essas histórias que contamos,
mostram exatamente o contrário".
Guns with History tem direção
criativa de João Coutinho e Marco Pupo, produção da Rival School
Pictures, realização de Andrew Lane e pós-produção de The Mill.
* Fantástico este português.
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