21/02/2015

HUGO MENDES

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Sobrevivência

PSD e CDS têm menos um terço das intenções de voto do que a soma da percentagem obtida pelos dois partidos em 2011.

1. A retoma de 2014 faz lembrar 2004. Tal como em 2014, em que o crescimento assentou totalmente no contributo da procura interna, 2004, depois do governo PSD/CDS ter atirado a economia para a recessão em 2003, foi o ano da década passada em que a procura interna mais contribuiu para o aumento do PIB (3,2 p.p.). Em ambos os anos, a viragem coincidiu com um reforço do poder do CDS na coligação (apesar do espalhafato de Portas com os banais dados das exportações, o CDS sabe que a sua sobrevivência depende da procura interna). A diferença é que a retoma de 2014, depois de uma longa recessão de 3 anos, vale metade da de 2004 (0,9% contra 1,8%), prefigurando um "novo normal" de uma economia estagnada, com menos 500 mil empregos e o dobro da dívida pública.

2. Amarrados um ao outro pela forma como venderam ao país um conjunto de mentiras na campanha de 2011; pelo modo como conduziram, tantas vezes além da ‘troika' e aquém dos mínimos de competência exigida para governar, o programa de ajustamento; isolados a nível interno e pressionados a nível externo (nenhuma instituição internacional subscreve as estimativas ou a inércia táctica do governo); e sem estratégia para o futuro, PSD e CDS chegam a oito meses das legislativas com quase menos um terço das intenções de voto nas sondagens (onde, em conjunto, não passam os 35%) do que a soma da percentagem obtida pelos dois partidos em 2011 (50,4%), e sempre atrás do PS.

3. Enquanto cruzam os dedos para que a queda do preço do petróleo cause um choque expansionista na economia, PSD e CDS buscam a estratégia que minimize a derrota eleitoral. E se é grande a tentação para se esconderem atrás de uma coligação, Portas também sabe que, nas legislativas de 2005, o CDS conseguiu ser bem menos penalizado (perdeu 1,5 pontos em relação aos 8,7% obtidos em 2002) do que o PSD (caiu 11,5 pontos em relação aos 40,2%). Ninguém se espantará se o instinto de sobrevivência eleitoral fizer regressar o registo de "um governo, dois partidos".

IN "DIÁRIO ECONÓMICO"
19/02/15


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