02/01/2015

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 O QUE NÓS 


  TRIPAMOS!


 GRAMÁTICA DA LÍNGUA TRIPEIRA

A gramática da língua tripeira, dialecto que também pode ser designado por tripeiro, é, no essencial, a da língua portuguesa, especialmente no que diz respeito à morfologia e à sintaxe. Quanto à fonética, as diferenças são consideráveis.

Vamos, de seguida fazer breves comentários sobre estas questões, mas a primeira e mais importante regra de aprendizagem é a prática, razão que nos levou ter, previamente, apresentado um texto e, só agora, abordar, embora superficialmente, a gramática.

Peguemos num exemplo que nos poderá ajudar:
Português: Vêm, ou não vêm?
Tripeiro: Se vindes, vindes; se não vindes, fodei-vos!

Se repararmos com atenção, verificamos que o tripeiro mantém a segunda pessoa do plural, enquanto o português começou a utilizar a terceira. Esta é a primeira questão a ter em conta. Também na pontuação poderá haver diferenças, sobretudo com o ponto de interrogação, já que o tripeiro afirma frequentemente em vez de fazer a pergunta directa.
Mas a grande diferença está, efectivamente, na pronúncia e no vocabulário. O tripeiro corrente é muito mais vivo e usa mais o vernáculo do que o português corrente.
Qualquer das línguas usa “apoios” na linguagem corrente, mas a tradução não é directa e só se consegue aprender com sensibilidade e prática.

Enquanto dizemos em português: “Bom, vamos lá ver!”, em tripeiro poderemos dizer: “Vamos lá a ver, caralho”.
O apoio “bom” é traduzido por “caralho”, sendo que esse mesmo apoio passa do início para o fim da frase.
Ao contrário do que se pensa, o tripeiro não usa a palavra “carago”, (ou muito raramente a usa), para apoio final, mas a que indicámos que, eventualmente, pode ser substituída por “porra”.

Há muitas frases idiomáticas.
Em anexo serão apresentadas algumas.
Para já, atente-se neste exemplo: “O Grande Porto”.
Esta expressão não tem nada a ver com um território, à semelhança de “A Grande Lisboa”.
Em tripeiro significa, pura e simplesmente, “Futebol Clube do Porto”.
 
Aproveitamos para chamar a atenção de uma curiosidade: a palavra “Ésseélebê” é traduzida para tripeiro por “Benfica”, mas na gíria das claques diz-se “filhos da puta”!
O restante, como ficou dito, só com a prática será assimilado.

Quanto à fonética, deveremos ser cuidadosos no seu estudo, sob pena de não sermos entendidos ou de sermos acusados de ter um sotaque do sul, o que é muito mau.
Voltamos à nossa frase inicial, apresentando a respectiva transcrição fonética: “se bindes, bindes; se não bindes, fodei-bos!”
Regra: (que muito irrita os nortenhos que a negam e dizem, sem razão que só em Viseu é que se fala assim): O nosso “b” soa em tripeiro como “v”, sendo que o nosso “v” se pronuncia “b”.
Mais alguns exemplos essenciais a ter em conta (apresentamos em primeiro lugar o som em português e, de seguida, o seu equivalente em tripeiro):
- Ão = oum. Exemplo: cão = coum.
- Ãe = anhe. Ex: mãe = manhe
- som ô = ou. Ex: boa = boua
- I = ei (nos sufixos em inha). Ex: Amarrotadinha = amarrotadeinha
- Ou em final de palavra pode soar = “oue” ou “oua”, conforme as zonas.
Assim, se lhe atenderem o telefone ouvirá “’stoua” (o “a” soando como em “camisa”) ou “’stoue” (o “e” soando como em “se”.
Dado o carácter elementar deste estudo vamos parar por aqui, não sem que acrescentemos, ainda uma informação importante: Com pequenas variações, o tripeiro é falado no Porto e todo o Douro Litoral e, ainda, na Galiza, nos seguintes distritos: Viana do Castelo e Braga.
No anexo vai ver a transcrição fonética essencial porque a verdadeira pronúncia é insusceptível de transcrição total.

O texto agora enviado como anexo, na página seguinte, servirá para cada discípulo poder familiarizar-se melhor com o tripeiro, podendo simultaneamente meter-se com o femeaço nortenho que é do melhor.

Não tentem armar-se em importantes, falando em português, se não querem correr o risco de ouvir um “olha m’este armado num xic’esperto do caralho. Bai-te foder, mouro da merda”!


LÍNGUA TRIPEIRA: 
PIROPOS PARA ENGATAR 
AS MIÚDAS DO PORTO

“A tua manhe só pode ser uma ostra para cuspir uma pérola como tue.”

“Só queria que fosses uma pastilha elástica para te andar a comer o dia tuodo.”

“És como um helicóptero: gira e boua!”

“Usas cuecas TMN ? É que tens um rabinho que é um “mimo” !”

“Tens umas belas gâmbias, carago! A que horas é que abrem?”

“Ó fêbra! Junta-te aqui à minha brasa, que bais grelhar!”

“Ó joia! Anda aqui ó orives pra tabaliare.”

“Ó linda, queres subir à palmeira e lamber-me os cocos?”

“Sabes onde ficaba bem essa tua roupa? Toda amarrotadeinha no chão do meu quarto!”

“Acreditas no amor à primeira bista, ou tens que passar por aqui mais bezes ?”

”Andas na tropa? É que marchabas que era uma fartazana.”

”Tantas curbas e eu sem trabões, cum caraças”

“Tanta carne boa e eu em jejum, ... comia-te à fartazana, carago.”

”Ainda dizem que as flores num andum, carago”

“Tens um cu que parece uma sabola! ... É de comer e chorar pru mais!”

“Ó boua, com um pandeiro desses deves cagar bombons!”

”Ó filha, lebabas com o martelo pneumático, que fazíamos já o túnel de Ceuta.”

”Ó filha, o teu pai debia ter a régua torta para te fazer com curbas assim.”

”Ó filha, anda cá acima que até a varraca avana.”

“O teu pai debe ser arquiteto, tens uma sêmea que é uma obra prima.”

“Só a mim é que não me calha uma destas na rifa.”

”Diz-me lá como te chamas, para te pedir ao Menino Jesus.”

 “Ó morcôna, comia-te o sufixo e mais o que tu quisesses!”

“Ó filha, contigo era até partir os pés à cama, carago.”

”Queria ser um patinho de borracha para passar o dia na tua banheira.”

”Deves estar tão cansada, passaste a noite às voltas na minha cabeça.”

”Não sou muito bom em matemática mas 1+1 = 69 ?”

”Ó filha, tens carinha de “Modelo” mas o teu cu é um “Continente”.”

”Com umas boias dessas o Titanic não tinha ido ao fundo.”

”Com um piso desses debes ser mais rodada que a Bia Circular.”

“Ó Beibi ! Bute lá dar um giro, axandrar uns kisses e bombar uma cena fixe."


      A. Amaro Correia



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