27/01/2015

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416.
Senso d'hoje

    HENRIQUE NETO
  EMPRESÁRIO
EX-MILITANTE DO "PS"
  SOBRE JOSÉ SOCRATES


Há questões que me chocam. Durante muitos anos os portugueses queixavam--se, e na minha opinião com razão, de que a justiça era inoperante, que havia casos que nunca ficavam esclarecidos. Agora,  os mesmos que se queixavam de que a justiça não actuava queixam-se que a justiça está a actuar e fazem-no em termos que para um democrata não são aceitáveis. A justiça, como todos os sectores da sociedade, pode cometer erros, mas é a justiça e tem de ser defendida. No caso de José Sócrates, ainda é mais grave porque, dadas as coisas que já foram publicadas – e algumas delas com base naquilo que ele próprio disse – não é compreensível. Aquilo que ele conta não é normal. Pedir aqueles empréstimos ao amigo, de valor tão elevado, não há nenhuma pessoa que pense que aquilo é normal. Por outro lado, houve negócios e decisões do Estado dificilmente compreensíveis. Fala--se agora muito no grupo Lena, que até é uma empresa relativamente pequena. Os governos do eng. José Sócrates assinaram negócios muito maiores com outras empresas! O negócio com a Mota-Engil relativamente ao cais de Alcântara é uma coisa perfeitamente incompreensível. Porque é que se faz um contrato com uma empresa privada em que se o mercado não corresponder às expectativas o Estado paga a diferença? Como é que se explica uma coisa destas? Isto é um mero exemplo, existem muitos exemplos semelhantes. Claro que a Assembleia da República e os membros do governo deveriam ter--se feito ouvir e dizer que isto não era correcto. Mas, como disse, ainda hoje há muitas pessoas que adoram o eng. Sócrates, que acham que ele foi o melhor primeiro-ministro português e que o defendem até às últimas consequências. Para mim é muito difícil compreender, mas pronto. 

* Excerto de entrevista ao "i"

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