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Senso d'hoje
Senso d'hoje
HENRIQUE NETO
EMPRESÁRIO
EX-MILITANTE DO "PS"
SOBRE JOSÉ SOCRATES
EMPRESÁRIO
EX-MILITANTE DO "PS"
SOBRE JOSÉ SOCRATES
Há questões que me chocam. Durante muitos anos os portugueses
queixavam--se, e na minha opinião com razão, de que a justiça era
inoperante, que havia casos que nunca ficavam esclarecidos. Agora, os
mesmos que se queixavam de que a justiça não actuava queixam-se que a
justiça está a actuar e fazem-no em termos que para um democrata não são
aceitáveis. A justiça, como todos os sectores da sociedade, pode
cometer erros, mas é a justiça e tem de ser defendida. No caso de José
Sócrates, ainda é mais grave porque, dadas as coisas que já foram
publicadas – e algumas delas com base naquilo que ele próprio disse –
não é compreensível. Aquilo que ele conta não é normal. Pedir aqueles
empréstimos ao amigo, de valor tão elevado, não há nenhuma pessoa que
pense que aquilo é normal. Por outro lado, houve negócios e decisões do
Estado dificilmente compreensíveis. Fala--se agora muito no grupo Lena,
que até é uma empresa relativamente pequena. Os governos do eng. José
Sócrates assinaram negócios muito maiores com outras empresas! O negócio
com a Mota-Engil relativamente ao cais de Alcântara é uma coisa
perfeitamente incompreensível. Porque é que se faz um contrato com uma
empresa privada em que se o mercado não corresponder às expectativas o
Estado paga a diferença? Como é que se explica uma coisa destas? Isto é
um mero exemplo, existem muitos exemplos semelhantes. Claro que a
Assembleia da República e os membros do governo deveriam ter--se feito
ouvir e dizer que isto não era correcto. Mas, como disse, ainda hoje há
muitas pessoas que adoram o eng. Sócrates, que acham que ele foi o
melhor primeiro-ministro português e que o defendem até às últimas
consequências. Para mim é muito difícil compreender, mas pronto.
* Excerto de entrevista ao "i"
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