HOJE NO
"PÚBLICO"
Amadora-Sintra ainda não
conseguiu contratar médicos,
mesmo a mais de 30 euros por hora
Caos do Natal pode repetir-se na passagem de ano no Hospital Amadora-Sintra. Basta que afluência à urgência volte a ser anormal. Por enquanto só há seis médicos escalados para o balcão de observação.
Depois do caos do Natal, em que cinco médicos estiveram escalados
para a primeira observação de quase 500 doentes por dia, o Hospital
Amadora-Sintra tem, para já, a garantia de que na passagem de ano
contará com seis clínicos para o balcão do serviço de urgência, revelou
ao PÚBLICO uma fonte da unidade de saúde. Se não houver uma procura
“inusitada” como a que ocorreu no Natal, se alguns médicos escalados não
adoecerem como sucedeu então, e se a afluência for a normal (cerca de
300 doentes por dia), no reveillon não haverá problemas. Mas são muitos “ses” e pode repetir-se o cenário de ruptura.
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Tanto o presidente da Administração Regional de
Saúde de Lisboa e Vale do Tejo como o assessor de imprensa do Hospital
Fernando da Fonseca (conhecido como Amadora-Sintra) não querem fazer
previsões para a passagem de ano, agora que a situação no serviço de
urgência se encontra normalizada, até porque a vaga de frio prevista
para os próximos dias pode alterar de novo o cenário.
Entretanto,
foram tomadas algumas medidas para evitar que a situação caótica se
repita.
No domingo, o hospital abriu 20 camas de internamento e esta
segunda-feira mais dez, para desentupir o serviço de urgência. A unidade
de saúde foi também autorizada pela tutela a contratar de imediato dez
médicos a empresas de prestação de serviços (os chamados “tarefeiros”)
e, se for necessário, até poderá pagar valores superiores aos máximos
previstos na lei (30 euros por hora, o que daria 720 euros por uma
escala de 24 horas na urgência), soube o PÚBLICO. Mesmo assim, pelo
menos até ao meio da tarde de segunda-feira, ainda não havia resposta
das empresas de prestação de serviços. “Não conseguimos contratar
médicos de um dia para o outro”, explicou o assessor de imprensa, Paulo
Barbosa.
Foi justamente a falta de médicos, agravada ainda
pela ausência de dois profissionais por doença, e aliada à enorme
afluência de doentes mais idosos e com muitas patologias, que contribuiu
para tempos de espera que chegaram às 20 horas, na noite de 25 para 26
de Dezembro. “Em dois dias a urgência recebeu 980 doentes. É
perfeitamente anormal, habitualmente é procurada por um máximo de 320
[pacientes/dia]”, acentua Paulo Barbosa. Com os centros de saúde
fechados (o Governo deu tolerância de ponto), o serviço de urgência
ficou repleto, tanto com casos muito urgentes, sobretudo pessoas de
idade avançada com insuficiências respiratórias, como por casos de
doentes com problemas pouco graves, descreve. Aliás, mais de 65% dos
doentes tinham pulseiras verdes (pouco urgentes). "Num quadro destes,
qualquer hospital estouraria, até o de S. José [em Lisboa] ficou
completamente lotado", lamenta o assessor.
Na passagem de ano,
Paulo Barbosa espera que a situação seja bem diferente: “Garantimos a
presença de seis médicos por dia nos balcões [os que fazem a primeira
observação], e estes em 24 horas vêem bem até 400 doentes”. O problema é
que a afluência pode voltar a ser fora do comum, até porque os centros
de saúde estarão de novo fechados.
“Estamos a tentar maximizar a
resposta, mas esta é finita. Todos os hospitais fizeram um reforço para
a passagem de ano, mas não há garantias [de que não haverá problemas
nas urgências], até porque vem aí uma vaga de frio”, admitiu o
presidente da Administração Central de Lisboa e Vale do Tejo, Luís Cunha
Ribeiro. A agravar, o hospital Amadora-Sintra dá resposta a uma
população socialmente desfavorecida, de quase 700 mil pessoas, com 37
nacionalidades diferentes. Porque não abrem, então, os centros de saúde
nestas alturas? "Não faz sentido, até porque por enquanto não há surto
de gripe e os centros de saúde nestas situações [dos idosos com várias
patologias, os que demoram mais tempo a ser vistos nas urgências] não
resolvem nada”, responde o responsável.
Os protestos
sucederam-se, entretanto. As comissões de utentes de saúde da Amadora e
de Sintra lembraram que "a iminente ruptura dos serviços de urgência e o
colapso do SO [serviço de observação]” do hospital apenas reflectem um
cenário há muito denunciado e reclamaram a contratação de mais
profissionais e o bastonário da Ordem dos Médicos defendeu que a falta
de capacidade de resposta do Amadora-Sintra é culpa do Governo.
Criticando o que classificou como “insensibilidade" do Ministério da
Saúde, “que conseguiu desorganizar” os hospitais, obrigando-os a
recorrer a empresas de trabalho temporário, o bastonário José Manuel
Silva defendeu, em declarações à TSF, que a solução passa pela admissão
de mais médicos para os quadros dos hospitais.
Ao final
da tarde, a Entidade Reguladora da Saúde anunciou também que vai
analisar a situação vivida no Hospital Fernando da Fonseca. A ERS
precisou que vai averiguar o que se passou no âmbito de um inquérito
sobre o acesso dos utentes que já tinha sido instaurado ao hospital
Amadora-Sintra.
* O hospital Amadora-Sintra é frequentemente notícia pelas piores razões. Não pela qualidade dos profissionais que lá trabalham mas porque a gestão privada desta unidade de saúde quer poupar onde não deve. O Natal em Portugal, caso os administradores não saibam, ocorre sempre no Inverno, a estação mais fria, outra importante informação para os gestores do hospital, onde ocorrem por regra mais acessos agudos de hipotermia, constipações e gripes, doenças das vias respiratórias, etc.
Ora, também é sabido que nesta época os sucessivos governos concedem e bem, tolerâncias de ponto pelo que Centros de Saúde e outros polos de atendimento encerram, o que motiva picos de afluência às urgências dos hospitais. O hospital Amadora-Sintra não recebe mais gente que os outros grandes hospitais de referência e em nenhum dos outros se verificaram esperas de 22 horas.
Os gestores desta unidade de saúde deviam ter-se precavido a tempo e horas, tiveram todo o ano de 2014 para estabelecer plano de contigência para o último mês, mas não, no poupar é que estão os seus ganhos e a precaridade dos utentes.
** E as empresas "fornecedoras" de profissionais de saúde a quem pagam miseravelmente, também são parte do problema.
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