Ouvir ou ler
em português?
No mundo inteiro
o conteúdo local é o mais relevante e, por regra, é a partir dele que
as estações de televisão constroem as suas grelhas de programação.
Existem no entanto mercados onde tão importantes, por exemplo, como as
séries de produção nacional são as séries de produção estrangeira,
nomeadamente americana. Em Franca, na Alemanha ou em Itália é frequente
encontrar no pico do horário nobre produções como o Mentalista ou
Criminal Minds e cito estes casos porque estão neste momento no ar na
TF1, o principal canal privado francês. Porque é que isso sucede?
Porque, ao contrário do que acontece em Portugal, as séries são dobradas
na língua dos respetivos países e (todos) os espectadores as acompanham
com a mesma naturalidade a que assistem a um programa de produção
local.
Em Portugal nunca foi assim e, valha a verdade, todas as
tentativas que se fizeram nesse sentido produziram maus resultados
embora exista um preconceito do espectador português que, à partida,
rejeita o produto dobrado e prefere, porque cresceu assim, o produto
legendado. A história é antiga, remonta ao salazarismo, aos fundamentos
do Estado Novo, e não cabe aqui, mas a opção pela legendagem, que existe
em Portugal e pouco mais no caso europeu, tornou a nossa televisão
menos diversificada e impediu a criação de uma indústria de dobragem que
existe em todos os países e que dá trabalho a centenas de atores e a
muitos estúdios. Nos filmes infantis e juvenis, e em toda a animação
para televisão, tudo o que as nossas crianças veem está dobrado e as
dobragens portuguesas são frequentemente elogiadas.
Esta reflexão
que partilho com os leitores surge a propósito do que está a acontecer
em África. Os mercados de Angola e Moçambique começaram por receber
todos os canais legendados, incluindo os canais que temos em Portugal
como os AXN, a FOX ou a FOX Life mas nos últimos meses um primeiro canal
inteiramente dobrado em português (neste caso) do Brasil foi uma
verdadeira pedrada no charco obrigando a uma rápida resposta da
concorrência. Este dado representa que sendo Angola e Moçambique
mercados novos, com populações muito jovens estas estão mais disponíveis
para ver e, neste caso, ouvir conteúdos em português do que ler
legendas. Será português na mesma, mas não português de Portugal.
Prisa
O grupo espanhol Prisa registou perdas superiores a
2000 milhões de euros nos três primeiros trimestres do ano. O número
parece assustador, mas o que é facto é que a Prisa deu alguns bons
sinais no âmbito do plano de relançamento financeiro que esta em marcha.
O grupo cresceu na área digital, na rádio e em geral na operação na
América Latina. Em Portugal os números da Media Capital, sobretudo
devido ao desempenho da TVI, também foram bons: 7,3 milhões de euros,
um aumento de 33% face ao período homólogo. O problema é que tudo parece
pouco perante o problema global da Prisa.
Irreversível
Não é necessariamemte um motivo de satisfação
mas as coisas são o que são. O "Big Brother" chega à China em 2015
confirmando a irreversível globalização do negócio dos conteúdos
televisivos. O emblemático programa criado por John de Mol que mudou a
face da televisão háa 15 anos está a ser desenvolvido pela Endemol Ásia e
pela plataforma de televisão paga Youku Toudu. A expectativa é grande,
mesmo que os pormenores sejam ainda escassos. O programa vai durar dez
semanas e, mesmo na China, talvez nada fique como dantes. Na televisão,
claro.
IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
02/11/14
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