07/11/2014

NUNO SANT0S




Ouvir ou ler
 em português?

No mundo inteiro o conteúdo local é o mais relevante e, por regra, é a partir dele que as estações de televisão constroem as suas grelhas de programação. Existem no entanto mercados onde tão importantes, por exemplo, como as séries de produção nacional são as séries de produção estrangeira, nomeadamente americana. Em Franca, na Alemanha ou em Itália é frequente encontrar no pico do horário nobre produções como o Mentalista ou Criminal Minds e cito estes casos porque estão neste momento no ar na TF1, o principal canal privado francês. Porque é que isso sucede? Porque, ao contrário do que acontece em Portugal, as séries são dobradas na língua dos respetivos países e (todos) os espectadores as acompanham com a mesma naturalidade a que assistem a um programa de produção local. 

Em Portugal nunca foi assim e, valha a verdade, todas as tentativas que se fizeram nesse sentido produziram maus resultados embora exista um preconceito do espectador português que, à partida, rejeita o produto dobrado e prefere, porque cresceu assim, o produto legendado. A história é antiga, remonta ao salazarismo, aos fundamentos do Estado Novo, e não cabe aqui, mas a opção pela legendagem, que existe em Portugal e pouco mais no caso europeu, tornou a nossa televisão menos diversificada e impediu a criação de uma indústria de dobragem que existe em todos os países e que dá trabalho a centenas de atores e a muitos estúdios. Nos filmes infantis e juvenis, e em toda a animação para televisão, tudo o que as nossas crianças veem está dobrado e as dobragens portuguesas são frequentemente elogiadas. 

Esta reflexão que partilho com os leitores surge a propósito do que está a acontecer em África. Os mercados de Angola e Moçambique começaram por receber todos os canais legendados, incluindo os canais que temos em Portugal como os AXN, a FOX ou a FOX Life mas nos últimos meses um primeiro canal inteiramente dobrado em português (neste caso) do Brasil foi uma verdadeira pedrada no charco obrigando a uma rápida resposta da concorrência. Este dado representa que sendo Angola e Moçambique mercados novos, com populações muito jovens estas estão mais disponíveis para ver e, neste caso, ouvir conteúdos em português do que ler legendas. Será português na mesma, mas não português de Portugal.

Prisa
O grupo espanhol Prisa registou perdas superiores a 2000 milhões de euros nos três primeiros trimestres do ano. O número parece assustador, mas o que é facto é que a Prisa deu alguns bons sinais no âmbito do plano de relançamento financeiro que esta em marcha. O grupo cresceu na área digital, na rádio e em geral na operação na América Latina. Em Portugal os números da Media Capital, sobretudo devido ao desempenho da TVI, também foram bons: 7,3 milhões de euros, um aumento de 33% face ao período homólogo. O problema é que tudo parece pouco perante o problema global da Prisa. 

Irreversível
Não é necessariamemte um motivo de satisfação mas as coisas são o que são. O "Big Brother" chega à China em 2015 confirmando a irreversível globalização do negócio dos conteúdos televisivos. O emblemático programa criado por John de Mol que mudou a face da televisão háa 15 anos está a ser desenvolvido pela Endemol Ásia e pela plataforma de televisão paga Youku Toudu. A expectativa é grande, mesmo que os pormenores sejam ainda escassos. O programa vai durar dez semanas e, mesmo na China, talvez nada fique como dantes. Na televisão, claro.

IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
02/11/14


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