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IN "JORNAL DE NOTÍCIAS"
26/10/14
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Quanto pesa
a alma do Governo?
A alma do Governo liderado por Pedro
Passos Coelho aproxima-se rapidamente dos 21 gramas, o peso que a dita
cuja alcança quando o ocaso chega e, solícito, transporta o ente para
outras e insondáveis paragens. Esta constatação devia, por si só, ser
bastante para sossegar as vozes mais cortantes que, ao mínimo erro do
Executivo bicolor, correm a pedir cabeças. Já não estamos no tempo da
briga justificada; estamos claramente no tempo de ajudar o Governo a
terminar os trabalhos com dignidade, para parafrasear a famosa frase do
famoso professor Cavaco Silva.É por isso que custa ouvir para aí 3/4 do
círculo político, digamos assim, reclamarem, dia após dia, a demissão
deste ou daquele ministro, mais a demissão deste ou daquele secretário
de Estado, para chegaram à demissão do Governo. O problema não está na
qualidade e/ou quantidade da argumentação - disso há aos montes. O
problema está na consequência da argumentação. Que, obviamente, é
nenhuma.
Vamos aos exemplos.
Depois de ter pedido desculpa
por uma grossa trapalhada, a ministra da Justiça meteu-se noutra,
chamada Citius, ainda mais grossa. À data de ontem, andavam ainda no ar
meio milhão de processos judiciais. A ministra concluiu, estribada, lá
está, em estudos aprofundados e de resultados inequívocos, que a culpa é
das chamadas chefias intermédias, essa cáfila que pulula na
Administração Pública a que cumpre zelar pelos interesses corporativos,
uma coisa gelatinosa que serve para justificar tudo e o seu exato
contrário.
Depois de ter pedido desculpa por uma grossa
trapalhada, o ministro da Educação correu a meter-se noutra de
semelhantes dimensões. Mais de um mês após o início do ano letivo, dá-se
o caso de um professor ter 95 horários para escolher. É uma espécie de
euromilhões da incompetência. Claro: a culpa há de ter sido de um
maldito algoritmo que não se deu bem com os colegas. Resultado: temos
uma espécie de Matrix na Educação.
O ministro dos Negócios
Estrangeiros, cuja existência estava por provar até há dias, disse
qualquer coisa sobre portuguesas alegadamente jihadistas que, aos olhos
do seu colega da Administração Interna, põe em risco a vida das ditas
cujas, uma vez que os fanáticos da coisa gostam de mostrar que têm poder
cortando cabeças.
Entre outras maravilhas parecidas às descritas,
ainda há o triste caso do secretário de Estado que se demitiu por ter
sido acusado de plágio.
A questão é: o primeiro-ministro devia
demitir os três ministros? Claro que sim. Sucede que há uma questão
antes desta questão. Que é esta: o primeiro-ministro tem condições para
demitir os três ministros? Claro que não. Basta pensar nisto: quem seria
o louco, ou a louca, que aceitaria ir para um Governo cuja alma se
aproxima dos 21 gramas? O poder de recrutamento de Passos e Portas é
igual a zero. Ou quem seria o louco, ou a louca, disposto a ficar com as
pastas em aberto, somando sarilhos aos sarilhos?
Aconteça o que
acontecer, resta esperar que o estertor se complete. É da natureza das
coisas. E é o único modo de a alma voltar a engordar.
IN "JORNAL DE NOTÍCIAS"
26/10/14
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