HOJE NO
"JORNAL DE NEGÓCIOS"
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George Soros defende que "é tempo
. de a UE acordar e agir como estando
. indirectamente em guerra"
No entender de George Soros, na Ucrânia e na
capacidade de resposta europeia às acções da Rússia joga-se também o
futuro da União Europeia. O húngaro-americano lamenta que os líderes
europeus desconheçam a melhor forma para lidar com a crise ucraniana e
pede a Angela Merkel um maior compromisso em ajudar a Ucrânia do que em
impor sanções à Rússia.
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O multimilionário húngaro-americano
George Soros considera que a frágil capacidade de resposta da União
Europeia (UE) em relação às acções russas na Ucrânia coloca "em risco o
seu próprio futuro".
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Num artigo que será publicado, em Novembro, no New York Review of
Books, Soros sustenta que o futuro da UE se joga também na forma como se
solucionará a crise ucraniana, lamentando que "nem os líderes europeus,
nem os seus cidadãos, tenham plena consciência deste desafio",
garantindo que em Bruxelas não "sabem qual a melhor forma de lidar com o
mesmo".
George Soros acredita que o presidente russo Vladimir Putin não
desistirá facilmente do objectivo de estender e reforçar a influência
russa para o ocidente europeu, aproveitando-se da objecção da Europa e
dos Estados Unidos a qualquer tipo "de confrontação militar com a
Rússia".
"Na falta de uma resistência una, é irrealista esperar que Putin não
tente ir além da Ucrânia quando a divisão da Europa e o seu domínio está
à vista da Rússia", avisa Soros.
O multimilionário considera ainda que os Estados-membros da União
precisam, portanto, de "despertar e agir como países estando
indirectamente em guerra". Porque no confronto ucraniano "o que está em
risco não é apenas a sobrevivência da nova Ucrânia mas também o futuro
da NATO e da própria UE, remata. Soros classifica de nova Ucrânia o
movimento pró-ocidente e anti-corrupção nascido nas manifestações da
praça Maidan que acabram por, em Fevereiro passado, levar à depoisção do
ex-presidente Viktor Yanukovych.
Resposta europeia é "inapropriada"
Por acreditar que a Europa se encontra em guerra com a Rússia, mesmo
que de forma indirecta, até porque as acções de Moscovo na Ucrânia
"representam um ataque aos princípios da UE", afirma-se como "evidente
que é inapropriado que um país, ou uma associação de países, em guerra
prossigam uma política orçamental de austeridade tal como a UE continua a
fazer".
Apesar de considerar que a chanceler alemã Angela Merkel "se tem
comportado como uma verdadeira europeia em relação à ameaça russa",
Soros realça que a governante germânica tem sido "a maior defensora das
sanções [económicas] contra a Rússia.
No entanto, o investidor nota que Merkel reafirmou recentemente a sua
"apologia à ortodoxia do Bundesbank em matéria de austeridade
orçamental", demonstrando "não perceber quão inconsistente isso é". Na
perspectiva de George Soros, Angela Merkel "deveria estar mais
comprometida em apoiar a Ucrânia do que em impor sanções à Rússia".
Nesse sentido, já depois de sublinhar "que os países europeus estão
igualmente relutantes em assistir militarmente a Ucrânia, temendo uma
retaliação russa", o húngaro-americano revela os problemas decorrentes
daquela que tem sido a aproximação europeia à crise ucraniana.
"Sanções contra a Rússia são necessárias, mas são um mal necessário.
Têm um efeito depressivo não apenas para a Rússia, mas também para as
economias europeias, incluindo a alemã. Isto agrava as forças de
recessão e deflação que já estão em curso", avisa Soros que se
prontifica a identificar o trilho que devem passar a percorrer as opções
políticas de Bruxelas, face às acções de Moscovo.
"Apoiar a Ucrânia no sentido de esta se defender, por si própria,
perante as agressões russas teria um efeito positivo não somente para a
Ucrânia, mas também para a Europa", afirma Soros que insiste que Kiev
"precisa receber o apoio adequado dos seus apoiantes, sem o qual os
resultados serão desapontantes e a esperança resultará em desespero",
conclui.
Porque, seja qual for o caminho que venha a ser seguido, Soros
assegura que "a contradição interna entre estar em guerra e permanecer
fiel ao compromisso para com a austeridade orçamental, terá de ser
eliminada".
Soros contra intervenção financeira directa da UE e dos EUA na Ucrânia
Por fim, George Soros afiança que seria "melhor, na relação
custo-benefício, que os Estados Unidos e a Europa não recorressem ao seu
crédito directo para assegurar parte da dívida ucraniana", sugerindo
que estes blocos económicos deveriam, ao invés, "recorrer a
intermediários como o Banco Europeu para a Reconstrução e o
Desenvolvimento ou o Banco Mundial".
Em jeito de conclusão, Soros volta ao tema essencial deste seu artigo
e que se prende com a incapacidade demonstrada pela UE, deixando
algumas sugestões aos responsáveis de Bruxelas:
"[A burocracia europeia] deveria aprender a ser mais unida, flexível e
eficiente. E os europeus precisam olhar mais atentamente para a nova
Ucrânia. Ajudá-los-ia a recuperar o espírito original que levou à
criação da UE. A UE salvar-se-ia salvando a Ucrânia".
* Rompeu-se a máscara da hipocrisia da UE com o conflito na Ucrânia.
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