20/09/2014

FRANCISCO MADELINO




Impasse

A França ameaçava há meses fazer deslizar das metas orçamentais. Já o tinha feito em Abril passado e abandonado a do défice nulo em 2007. Definiu, na altura, um objectivo de 3% em 2015. 

Prolongou-o agora mais dois anos. Em meados do próximo mês, no âmbito do semestre europeu, vai solicitá-lo, precisamente, ao francês Moscovici, que antecedeu o atual ministro Sapin no Governo.

Este pedido surge num contexto europeu em mudança.

O novo Presidente da Comissão fala da necessidade de calibrar a intensidade da austeridade com a evolução do desemprego. Mário Draghi tem desafiado a ortodoxia alemã. Engrossam os economistas que questionam as orientações europeias. Recentemente Paul Grauwe defende que importa suspender as famosas reformas estruturais, urgindo estimular o investimento público.
A brisa que se foi levantando, defendendo uma reorientação das orientações macroeconómicas, tem vindo a engrossar na Europa. É cada vez mais forte.

Afirmam os franceses que o crescimento tem sido fraco, face ao previsto em Abril passado, assim como a inflação baixa. Recorre-se, então, no deslizamento, aos ensinamentos da Macroeconomia e aos pressupostos excecionais do Tratado Orçamental.

Para Portugal, mais faria sentido este argumento. A riqueza nacional recuou mais duma década. A destruição de postos de trabalho é enorme. A inflação não é elevada. A emigração jovem permanente. O peso da divida na riqueza nacional cada vez maior.

Os responsáveis políticos europeus estão a tentar ganhar tempo. Estão num impasse. Portugal é a demonstração da falência do caminho de ajustamento seguido.

Notícias destas, como a francesa, só alimentam os que defendem a mudança. Portugal só tem a ganhar. É preciso, no entanto, que a mudança se consolide.

O caminho é tortuoso, demorado e não é fácil. Depende, sobretudo, dos diversos eleitorados nacionais escolherem dirigentes com visões distintas, para que ele se solidifique nas instâncias europeias.


IN  "DIÁRIO ECONÓMICO"
17/09/14


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