ESTA SEMANA NO
"SOL"
Lisboa recebe primeira
conferência internacional de
Arte e Criatividade Urbana
O responsável pela exposição de Arte Urbana da Tate Modern, em
Londres, Cedar Lewinsohn, é o 'cabeça de cartaz' da primeira conferência
internacional de Arte e Criatividade Urbana de Lisboa, que deve dar
origem a um jornal científico semestral.
Um dos organizadores, Pedro Neves, explicou que a exposição
de 2008 num dos museus mais conceituados do mundo abriu debates e
precedeu exposições em museus, galerias e outras instituições, pelo que o
testemunho de Cedar é um dos principais atractivos para o evento de
Julho deste ano, na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa.
Já o jornal científico ainda não tem nome, com esta conferência, segundo o promotor, a ser um ponto de partida para o projecto.
Além das palestras de um dos responsáveis do NUART Festival e de
Marcus Willcocks, envolvido em design contra o crime no Reino Unido, o
programa da conferência deve incluir contacto com "grupos informais" que
desenvolvem "actividades espontâneas".
Este evento também quer "inovar no discurso", ao envolver ciências
que têm analisado a criatividade nas ruas, para lá da sociologia e
antropologia. Os conhecimentos da semiótica, design, análise de
comportamento e engenharias também vão ter voz, segundo a organização.
A designação da conferência foi propositadamente alargada para
criatividade, porque arte urbana tem sido reduzida a pinturas de murais
de grande escala, segundo Pedro Neves, que assumiu que de "uma
subcultura já se passou para uma cultura de massas", na qual se "perde
espontaneidade e geram-se dependências".
"Quem colheu os frutos não foi quem se arriscou fisicamente a trepar
vedações", argumentou o organizador, garantindo que "isso não tira o
mérito" a muitos artistas que exploraram, por exemplo, a estética do
grafiti nas suas obras.
"Esta conferência tem uma dimensão mais vasta, porque é necessária
essa 'bolha', mas a grande mais-valia do fenómeno são gestos
irreflectidos no quotidiano", explicou o organizador, lembrando as
"linhas do desejo", ou seja, os carreiros feitos em locais que à partida
não eram transitáveis.
Para Pedro Neves, a criatividade urbana tem força "nas pessoas que a fazem e na potencialidade de qualquer pessoa o fazer".
Em tempos, Pedro Neves respondia pelo nome de Uber quando queria
apenas "fazer banda desenhada em grande escala", mas a ilegalidade de
pintar paredes ou comboios possibilitou-lhe não só fazer 'bonecos', como
uma noite na prisão em Espanha.
Enquanto artista de rua, não encaixava no perfil habitual de
apreciador da música/cultura 'hip hop'. "Eu ouvia jazz", disse à agência
Lusa Pedro Neves, que depois da licenciatura "procurou o que ainda não
existia", um elo entre a prática e a academia.
Somou um mestrado em participação no espaço público, em Roma, e uma
segunda licenciatura e mobilizou uma conferência em 2008 que questionava
o futuro das paredes no Bairro Alto (Lisboa) e lançou as bases para a
Galeria de Arte Urbana.
Pedro Neves envolveu-se na Associação Portuguesa de Arte Urbana e no
projecto Crono, que incluiu a intervenção dos artistas Gémeos na Fontes
Pereira de Melo, pelo que uma nova intervenção em empenas de edifícios
"já não era algo novo" em Lisboa.
Por isso, está a concretizar um projecto antigo, mas inédito na
capital portuguesa, uma reflexão internacional sobre criatividade
urbana, como resumiu o organizador, que acrescentou que a conferência
quer "fazer ligações entre a cúpula e o terreno".
* Quem não cuida da arte não cuida da vida
.
Sem comentários:
Enviar um comentário