HOJE NO
"DIÁRIO ECONÓMICO"
PGR "acompanha" situação na holding
da família Espírito Santo
Procuradoria está atenta às operações da Espírito
Santo Internacional. Autoridades admitem pedir informação, mas ESI está
sob supervisão do regulador luxemburgês.
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O Ministério Público (MP) está a "acompanhar" a situação
da Espírito Santo Internacional (ESI), uma das holdings de topo da
família Espírito Santo com sede no Luxemburgo que controla as áreas
financeira e não financeira do grupo. Após tornada pública a existência
de irregularidades financeiras nesta holding, a Justiça admite vir a
solicitar elementos que sejam "relevantes para a investigação criminal".
Em causa estão informações reveladas, na semana passada, no prospecto de aumento de capital do BES,
onde se dá conta que uma auditoria externa "identificou irregularidades
materialmente relevantes" nas contas da ESI, a holding de topo do grupo
onde estão os cinco principais accionistas da família. Já um relatório
da comissão de auditoria da Espírito Santo Financial Group (ESFG) terá
concluído que não foram registados 1,2 mil milhões de euros de dívidas
nas contas de 2012, deixando a ESI numa "situação financeira grave".
"O Ministério Público encontra-se a acompanhar a situação,
nomeadamente as notícias vindas a público", avançou ao Económico fonte
oficial da Procuradoria-Geral da República (PGR) quando questionada
sobre eventuais queixas dos reguladores, na sequência das conclusões do
relatório da Comissão de Auditoria da ESFG que constam do prospecto de aumento de capital do BES.
Fonte oficial da PGR dá ainda conta ao Económico que "o relatório em
causa ainda não foi recebido", mas sinaliza: "o Ministério Público não
deixará de solicitar todos os elementos que considere relevantes para a
investigação criminal". De qualquer forma, o Ministério Público não
esclarece se o acompanhamento da situação da ESI, sinalizado pelo MP,
passa por uma averiguação preventiva ou eventualmente pela abertura de
um inquérito. Mas, das autoridades de regulação e supervisão, a
iniciativa do Ministério Público é vista como uma "diligência" normal,
de quem está a fazer o seu trabalho.
ESI está no Luxemburgo
O facto de a ESI estar sob a supervisão dos reguladores de outro país
- o Luxemburgo - limita a intervenção das autoridades portuguesas, quer
os reguladores, quer as judiciais. Do lado do Banco de Portugal, a
resposta oficial é "sem comentários". Mas o Económico sabe que é claro
para Carlos Costa que a responsabilidade na avaliação de quaisquer
eventuais irregularidades é do regulador luxemburguês e, depois, se tal
se confirmar, das próprias autoridades judiciais desse país, isto porque
não está em causa o BES ou a ESFG, a holding que tem cerca de 27,3% do
banco. Estas duas instituições são supervisionadas pelo Banco de
Portugal, enquanto a ESI não.
A situação financeira da ESI, por ser uma sociedade sediada no
Luxemburgo que se rege por direito luxemburguês, releva apenas para
efeitos da ordem jurídica desse país - onde a lei prevê (tal como a
portuguesa) que a falta de registo contabilístico, se feita com dolo, é
ocultação de contas, o que constitui matéria criminal. Daí que a
investigação de qualquer possível ilícito criminal ou contraordenacional
seja da competência das autoridades do Luxemburgo, não invalidando,
porém, a troca de informações com o MP português.
Questionado o BES se o Ministério Público tinha já solicitado o relatório da Comissão de Auditoria da ESFG ou da auditoria realizada à ESI pela KPMG, fonte oficial do banco afirma não fazer comentários.
Após tornada pública a "situação financeira grave" da ESI, o presidente do BES,
em entrevista ao Jornal de Negócios , admitiu: "Houve uma negligência
grave. Dolo, acho que não. E uma coisa que a KPMG apurou é que não houve
desvios de dinheiros".
O presidente executivo do BES, Ricardo Salgado, afirmou ainda que de
nada sabia e que foi apanhado de surpresa pelos resultados da auditoria,
justificando que a crise financeira o levou a focar-se no banco, em
prejuízo da atenção à área não financeira. E assumiu que "não houve
controlos adequados ao nível das holdings de topo" e que "todos"
cometeram erros no grupo. O "commissaire aux comptes" no Luxemburgo
assumiu os erros cometidos na ESI.
Já sobre as dúvidas quanto à capacidade da ESI de reembolsar o papel comercial colocado junto de clientes do BES,
levaram a efectuar uma provisão extraordinária de 700 milhões de euros
nas contas de 2013, para acautelar o risco de exposição, incentivada
pelo Banco de Portugal (BdP).
Questionados os reguladores (BdP e CMVM) sobre se os relatórios de
auditoria e/ou indícios de crime foram enviados para o MP ou solicitados
por este, as respectivas fontes oficiais respondem: "não há
comentários a fazer".
* É muita competência...banqueira.
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