14/04/2014

ZURAIDA SOARES

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Mentira!

Assistimos todos os dias pelas televisões a debates e proclamações sobre a saída do programa da Troika.

Saída limpa, saída assim assim, saída controlada. Enfim, todos os tipos de saída são discutidos longas horas, abrem noticiários e fazem manchetes de jornais.

Parece que estamos num restaurante a escolher a comida no menu.
No entanto, todo este burburinho não passa de uma manobra para, mais uma vez, enganar os portugueses e as portuguesas.

A Troika impôs cortes salariais e de pensões, o aumento brutal de impostos, a desregulação dos direitos do trabalho, a proibição de investimento público: todo um rol tenebroso de medidas que lançou mais de um milhão de portugueses e portuguesas no desemprego, impôs a emigração pela sobrevivência, o sofrimento, e provocou um retrocesso social sem precedentes, em tempos de democracia, no nosso País.

Tudo isto, para não faltar o dinheirinho para o capital financeiro. A dívida sobe e os juros pagam-se todos os dias: por acaso, estamos a falar de 8 mil milhões de euros por ano, o que corresponde a 5% do PIB nacional.

Uma coisa é certa, o povo sofreu para pagar o serviço da dívida.
A este filme trágico que vivemos, estão ligados os seguintes nomes: PS, PSD e CDS. Mas estes protagonistas – com diferenças no guião, é certo – pretendem que o filme continue, nos seus traços essenciais.

Para isso, os três – PS, PSD e CDS – assinaram o Tratado Orçamental, que, em termos gerais, impõe que:
- antes de ser votado na Assembleia da República, o orçamento é vistoriado pela Comissão Europeia, e se esta não gostar, o documento terá de ser emendado;
- o orçamento tem de cumprir os objectivos de deficit, não ultrapassando os 0,5%, ou seja, mesmo perante situações sociais gravíssimas, o Governo não pode alterar os objectivos orçamentais.
Em suma, as visitas regulares dos três senhores da Troika, serão substituídas pela ida da ministra ou ministro das Finanças a Bruxelas, para receber as ordens.

Ordens essas, que são a continuação da política da Troika. E se houvesse dúvidas sobre a continuidade desta política, bastava referir estes dois casos:
PS, PSD e CDS votaram, no Parlamento Europeu, a favor da norma que estebelece que, em caso de eventuais não cumprimentos do Tratado Orçamental, serão cortados os fundos europeus a Portugal (a banca protege-se).

O orçamento de 2015 vai impor novos cortes entre 1,5 a 2 mil milhões de euros, que vão ser retirados directamente, ou indirectamente, aos trabalhadores e pensionistas portugueses.
A conclusão é clara: não temos a visita dos três senhores, mas a Troika fica cá, por isso não há saída nenhuma, nem limpa, nem suja. Tudo continua na mesma.

Ou melhor dito, tudo fica pior para quem vive do trabalho ou da pensão, e para os jovens vão aparecer ainda mais cortes em cima dos actuais.
No entanto, os 8 mil milhões de euros por ano para a banca continuam.

Como há três anos atrás, continuo a dizer: deixem-se de mentiras! Só com a reestruturação da dívida e com a recusa do Tratado Orçamental é que é possível erguer de novo este País, e dignificar a vida dos portugueses e portuguesas que estão fartos de sofrer para encher os cofres dos bancos.
“Mobilização contra a mentira” tem de ser, pois, o nosso lema.


IN "AÇORIANO ORIENTAL"
11/04/14

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