HOJE NO
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"PÚBLICO"
Portugal foi dos países onde o peso
do rendimento dos 1% mais ricos
mais cresceu
Comparação entre 18 países, feita pela OCDE para o período entre 1981 e 2012, coloca Portugal apenas atrás dos EUA e do Reino Unido. Entre 1976 e 1981, o peso dos mais ricos no rendimento tinha descido.
O peso do rendimento dos 1% mais ricos no total dos rendimentos da
população mais do que duplicou em Portugal nas últimas três décadas,
aproximando-se dos 10%, o que faz do país um dos que apresentam uma
tendência mais nítida de aumento da desigualdade durante esse período,
quando este indicador é analisado com base no nível relativo do
rendimento do segmento mais rico da população.
A comparação entre 18 países do chamado “mundo
industrializado” é apresentada num relatório publicado nesta
quarta-feira pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento
Económico (OCDE). Os autores do relatório analisam a evolução do peso do
rendimento dos 1% mais ricos entre 1981 e 2012 (ou o ano mais recente
para o qual há dados disponíveis).
Em Portugal, os 1% mais ricos
obtinham 4,3% do rendimento em 1981, um dos valores mais baixos entre os
países analisados, mas que passou para 9,8% em 2005, o último ano para o
qual são conhecidos dados. A subida de 5,5 pontos percentuais neste
indicador é a terceira maior entre os países analisados, atrás dos 11,1
pontos registados nos EUA e dos 6,3 pontos do Reino Unido.
De
notar que, ao escolher o ano de 1981 como ponto de partida para esta
comparação internacional, a OCDE acaba por encontrar Portugal
precisamente no momento em que o nível de rendimentos dos mais ricos
tinha um menor peso no rendimento total, o que influencia depois a
variação registada até agora.
De facto, olhando para os dados
compilados pelo economista Facundo Alvaredo para Portugal (e que
serviram de base para os cálculos agora divulgados pela OCDE), entre
1976 e 1981, na sequência das alterações económicas produzidas no pós-25
de Abril, registou-se uma queda acentuada do peso dos rendimentos dos
1% mais ricos nos rendimentos totais, que em 1976 estavam em 7,9%.
A
partir dos anos 80 do século passado, inicia-se uma recuperação desse
indicador, que subiu de forma quase ininterrupta durante as décadas
seguintes, superando o máximo registado em 1976 logo no início dos anos
90.
“Nos anos 80, assistiu-se a uma maior abertura da economia
portuguesa ao exterior e a um processo de liberalização, o que explica o
aumento muito forte do peso dos rendimentos dos mais ricos durante esse
período”, explica Carlos Farinha Rodrigues, economista que tem seguido
de perto os temas da desigualdade em Portugal.
Para os anos a
seguir a 2005, não se consegue saber o que aconteceu em Portugal neste
indicador. Os dados relativos à distribuição de rendimentos que são
conhecidos são os publicados pelo INE com base nos inquéritos aos
rendimentos. Os dados publicados pela OCDE são retirados da informação
de pagamento de impostos produzida pela administração fiscal.
O
INE opta por não publicar informação referente ao rendimento dos 1% mais
ricos da população. Faz apenas comparações entre os 10% mais ricos e os
10% mais pobres. Como explica Carlos Farinha Rodrigues, esses dados da
segunda metade da década anterior mostram uma tendência de redução da
desigualdade. “Até 2010, houve uma redução sustentada da desigualdade,
que a partir daí começa a subir”, afirma.
Em 2012, o índice de Gini
registou uma ligeira descida, apontando para uma redução da desigualdade
na distribuição dos rendimentos, mas, em contrapartida, o rácio entre
os rendimentos dos 10% mais ricos e os 10% mais pobres voltou a subir.
Isto significa que nesse ano (o último para o qual há dados disponíveis)
houve uma redução da desigualdade nos rendimentos intermédios, mas um
aumento do desequilíbrio nos extremos.
Efeito temporário da crise
O
tema da desigualdade na distribuição dos rendimentos tem vindo, nos
últimos meses, a ganhar um lugar de destaque no debate político e
económico nos Estados Unidos e na Europa. O livro do economista Thomas
Piketty Capital in the Twenty-first Century, que conclui que, à
escala mundial, os mais ricos entre os ricos estão a acumular uma parte
cada vez maior do rendimento, foi uma das principais razões para que se
voltasse a discutir quais as políticas económicas mais adequadas para
lidar com este fenómeno.
É por isso que a OCDE lança agora este
relatório. A organização assume a conclusão de Piketty de que há um
aumento generalizado da desigualdade na distribuição do rendimento e
destaca em particular a tendência muito acentuada que se regista nos
EUA, onde o rendimento dos 1% mais ricos passou de 8,2% para 19,3%. “O
crescimento do rendimento real médio é mais baixo em França do que nos
Estados Unidos durante as últimas três décadas, mas a França teve um
desempenho melhor que os EUA, quando consideramos o aumento do
rendimento dos 99% menos ricos da população.”
A OCDE conclui ainda
que a recente crise económica e financeira serviu (como aconteceu no
passado com a Grande Recessão dos anos 30) para colocar um travão no
aumento da desigualdade. No entanto, alerta que esse travão parece ser
apenas “temporário”, não chegando para compensar os aumentos da
desigualdade anteriores.
O estudo da OCDE assinala que os governos
têm à sua disposição instrumentos de política adequados para reduzir a
desigualdade, como o aumento de impostos sobre os rendimentos mais altos
e sobre o capital.
No caso de Portugal, registaram-se alterações
significativas em Portugal neste capítulo desde o início da crise. No
IRS, houve um aumento da taxa aplicada aos rendimentos mais altos e uma
redução dos benefícios fiscais, duas medidas que contribuem para o
aumento da progressividade dos impostos. Por outro lado, houve uma
redução dos escalões, algo que pode diminuir a progressividade. “O
sistema fiscal pode ter-se tornado mais progressivo”, afirma Carlos
Farinha Rodrigues.
O executivo está ainda a preparar este ano uma redução do IRC, algo que pode vir a beneficiar os rendimentos do capital.
* Este governo é o que mais pugna por aumentar as desigualdades sociais. O problema do país não é haver ricos mas de estes só o serem por condicionarem a pobreza.
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