Rodrigues dos Santos
confronta José Sócrates
José Rodrigues
dos Santos repetiu e repetiu a pergunta: há ou não há uma contradição
entre as críticas feitas pelo José Sócrates de hoje à política de
austeridade do Governo, com as declarações do José Sócrates
primeiro-ministro em 2011 a defender a austeridade como "o único
caminho" para o País?
Sócrates respondeu e respondeu: acompanhou
sempre as medidas de austeridade com outras de investimento público para
fazer crescer a economia. Isso faz toda a diferença em relação à
austeridade, sem mais nada, de Passos Coelho.
O diálogo animou uma
multidão virtual. Com o título "Sócrates irrita-se: "Não vinha
preparado para isto"" a notícia no site do DN tinha, ontem à noite, 123
mil visualizações, um número que se junta a centenas de milhares em
outros sites e aos infinitos comentários nas redes sociais.
Fui
ver. Nem acho que Sócrates se tenha irritado (e, confesso, parece-me
injusta a titulagem do DN) nem concordo que Rodrigues dos Santos se
tenha excedido.
Sócrates tem utilizado o espaço na RTP para,
repetidamente, apresentar a sua verdade sobre um passado como
primeiro-ministro que CDS e PSD, repetidamente, vilipendiam sem
contraditório.
Acontece que, em quase um ano de rubrica, Sócrates
também não foi seriamente confrontado com o seu próprio discurso: a
repetição constante das suas teses de defesa estava, do ponto de vista
jornalístico, a precisar angustiantemente daquilo que Rodrigues dos
Santos fez.
Dir-se-á que neste estilo de programa - como acontece
com Marcelo, Sarmento e Marques Mendes - o papel dos entrevistadores é
apenas o de guiar a conversa pelos assuntos políticos da semana de forma
a suscitar o comentário opinativo dos convidados. É um modelo
defensável mas o próprio Sócrates, ao falar sempre do passado mais
distante, quebrou esse limite.
Há outro ponto: estes órgãos de
comunicação social assumem um compromisso e uma obrigação editorial
jornalística completamente diferente daquele modelo "manso".
Todos
reclamam ter a maior independência e isenção face, entre outros, aos
políticos - objetivos, digo eu, impossíveis de alcançar mas que é
obrigação dos jornalistas tentarem obcecadamente conseguir (menos nos
seus próprios espaços de opinião). Ao sujeitar este tipo de jornalistas à
passividade está a violar-se abertamente tal compromisso por,
simplesmente, eles passarem a ser vistos como plácidos apoiantes das
opiniões dos convidados.
Significa isto que estas rubricas devem
acabar? Não. Ou se fazem como Rodrigues dos Santos fez ou, se quiserem
apenas espaços de opinião ajudados por um compère, não envolvam neles
jornalistas submetidos a um estatuto editorial daquele tipo.
IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
25/03/14
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