Esperar pela pancada
Disse
Passos, no congresso da risota, que no meio da pancadaria - a de
Molière e a outra - com que nos mimoseia há dois anos e meio as últimas
arrochadas, mesmo se mais fracas, podem doer mais que as primeiras.
Será? Parece é que já nada dói, ou nada já se sente, tal o estado de
catalepsia em que o País mergulhou. O coma é tal, aliás, que Relvas, o
Relvas que há 11 meses saiu, choroso, por "falta de condições anímicas",
se animou a regressar de corpo à alma que é deste PSD. Aliás levou só
um bocadinho mais de tempo que Gaspar, o ministro das Finanças que em
julho reconheceu por escrito o falhanço da sua política e veio agora,
impante, congratular-se no (seu) "milagre". E bastante mais que Portas,
tão rápido a sair e reentrar que nisso (como em tanta outra coisa)
ninguém o bate.
E, depois, de que últimas pancadas fala Passos, quando se anunciam quatro mil milhões de cortes (o mesmíssimo valor que se anunciava no início de 2013 como equivalendo à "reforma do Estado") e o mesmo FMI que arrepela os cabelos com a tragédia do nosso desemprego e nega o celebrado "milagre das exportações" prescreve baixar ainda mais os salários? Dizia esta semana o ministro Maduro, maduramente, que "é preciso pensar mais, refletir mais, tratar as coisas com mais profundidade." A gente já se contentava com um bocadinho menos de desplante. Veja-se por exemplo a notícia de ontem sobre o subsídio de desemprego.
Parece então que Governo e troika repararam ter a percentagem de subsídios anulados (por incumprimento das regras) vindo a descer, atingindo em 2013, ano do máximo histórico do número de desempregados, o valor mais baixo de sempre. Que concluem daí? Que os desempregados que recebem a prestação, apesar de serem submetidos a cada vez mais exigências, muitas delas gratuitas, humilhantes e persecutórias, se têm esforçado por cumpri-las? Que isso só pode querer dizer que estão desesperados e que o mercado de trabalho não tem mesmo lugar para eles?
Qual quê. Ante a evidência de diminuição da fraude, Governo e troika não desarmam: vão investir em cartas registadas para certificar que quem não responda a uma primeira convocatória em correio normal possa ver logo o subsídio cortado ao não responder à segunda; o número de anulações, dizem, vai compensar o gasto nos registos. E sabem isso como? Fizeram contas. Com base em quê? Isso agora: então não é bom de ver que há uma percentagem fixa de desempregados burlões (senão todos), excelmente determinada, e que só falta apanhá-los?
Realmente, não se imagina melhor forma de comemorar os 40 anos de um partido que faz uma paródia da social-democracia senão esta espécie de Estado social por equivalência, em que as prestações sociais existem para ser anuladas e a lei para acertar contas. Razão têm os líderes do PSD para rir, e Relvas para voltar: estamos mesmo no ponto.
E, depois, de que últimas pancadas fala Passos, quando se anunciam quatro mil milhões de cortes (o mesmíssimo valor que se anunciava no início de 2013 como equivalendo à "reforma do Estado") e o mesmo FMI que arrepela os cabelos com a tragédia do nosso desemprego e nega o celebrado "milagre das exportações" prescreve baixar ainda mais os salários? Dizia esta semana o ministro Maduro, maduramente, que "é preciso pensar mais, refletir mais, tratar as coisas com mais profundidade." A gente já se contentava com um bocadinho menos de desplante. Veja-se por exemplo a notícia de ontem sobre o subsídio de desemprego.
Parece então que Governo e troika repararam ter a percentagem de subsídios anulados (por incumprimento das regras) vindo a descer, atingindo em 2013, ano do máximo histórico do número de desempregados, o valor mais baixo de sempre. Que concluem daí? Que os desempregados que recebem a prestação, apesar de serem submetidos a cada vez mais exigências, muitas delas gratuitas, humilhantes e persecutórias, se têm esforçado por cumpri-las? Que isso só pode querer dizer que estão desesperados e que o mercado de trabalho não tem mesmo lugar para eles?
Qual quê. Ante a evidência de diminuição da fraude, Governo e troika não desarmam: vão investir em cartas registadas para certificar que quem não responda a uma primeira convocatória em correio normal possa ver logo o subsídio cortado ao não responder à segunda; o número de anulações, dizem, vai compensar o gasto nos registos. E sabem isso como? Fizeram contas. Com base em quê? Isso agora: então não é bom de ver que há uma percentagem fixa de desempregados burlões (senão todos), excelmente determinada, e que só falta apanhá-los?
Realmente, não se imagina melhor forma de comemorar os 40 anos de um partido que faz uma paródia da social-democracia senão esta espécie de Estado social por equivalência, em que as prestações sociais existem para ser anuladas e a lei para acertar contas. Razão têm os líderes do PSD para rir, e Relvas para voltar: estamos mesmo no ponto.
IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
28/02714
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