Notas soltas
Gaspar e a cadeira de sonho
Vítor Gaspar já tem a sua cadeira de sonho. Como esperado, é numa
instância internacional em que os políticos imperam mas se disfarçam de
técnicos. Podia ter sido no BCE ou no Banco Mundial, mas obviamente
calhou no mais adequado à personagem: o FMI. Lagarde fez saber que
Gaspar tinha uma formidável experiência em políticas públicas. É bem
verdade, e os portugueses que o digam. Reconheça-se que o perfil é de
facto adequado ao FMI, instituição que actua sempre com a mesma receita,
independentemente do estado onde aterra. Foi aliás essa rigidez que
desgraçou vários países e levou os portugueses a suportarem sacrifícios
desnecessários, como hoje se reconhece. Por outro lado, é evidente que a
reabilitação pública que Gaspar tentou em livros e jornais foi apenas
uma peça da estratégia de uma saída há muito definida.
A coerência de Cavaco
Uma das características do Presidente da República é a coerência do
seu comportamento, independentemente do juízo político que se possa
fazer dos seus actos em si mesmos. Por isso não surpreendeu a decisão de
não enviar para fiscalização preventiva do Tribunal Constitucional (TC)
o Orçamento Rectificativo que integrava a reformulação do imposto a que
sibilinamente se deu o nome de contribuição extraordinária de
solidariedade (CES). Esta passa a abranger todos os reformados acima de
mil euros, que vêem os seus escalões agravados violentamente. Uma vez
que contra todas as expectativas a CES já tinha passado uma vez no TC,
seria pouco provável e altamente desestabilizador para o tempo final da
presença da troika uma atitude radical do Presidente. Por outro lado,
era óbvio que os partidos da oposição, designadamente o PS, anunciassem
como o fizeram o envio para fiscalização sucessiva do documento. Por
isso também não vale a pena perder um segundo sequer a equacionar a
possibilidade de o chefe de Estado vetar o rectificativo, embora ainda o
possa fazer.
Um caso estranho
A forma como o general de quatro estrelas Luís Araújo tratou em
finais de 2013 da passagem à reforma sem dar cavaco a ninguém tem muito
que se lhe diga. Passando sobre o facto de ter sido feita online,
certamente para garantir a discrição, há que assinalar que haveria lugar
a uma penalização agravada se o pedido fosse feito este ano. Mas há
também a estranhar a rapidez com que foi despachada e, talvez o mais
grave, o que parece ter sido a total ausência de comunicação formal da
intenção, tanto para a hierarquia militar como para a hierarquia
política, no caso o governo e o Presidente da República.
Está para se ver se Cavaco vai ou não condecorar o ex-CEMGFA no 10 de Junho, como a sua folha de serviços justifica plenamente.
Marcelo no seu melhor
O Coliseu rendeu-se a Marcelo no congresso do PSD. Depois de ter
enfiado a carapuça e de se ter afastado por causa da moção sibilina de
Passos Coelho, o ex-líder mostrou ali que, se pretender candidatar-se ao
que quer que seja, mais a mais a um órgão unipessoal como é a
presidência, terá o partido a seus pés, com este ou com outro líder
qualquer. Há uma afectividade para com Marcelo que não existe com mais
ninguém, nem tem paralelo noutro partido.
O regresso de Relvas
Enquanto fazia o seu running matinal em terras de Vera Cruz, Miguel
Relvas era eleito número um da lista de Passos para o conselho nacional,
o principal órgão do partido entre congressos. A votação não foi
brilhante, mas é tradição a lista apoiada pelo líder do partido ser
controversa, exactamente porque quem não a integra fica ressabiado e
vota numa das outras que se apresentam. Quanto a Relvas, há um ponto que
se lhe deve conceder. Conhece muito bem o partido, os militantes e foi
um eficiente secretário-geral.
IN "i"
01/03/14
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