Morra Dantas, morra PIM!
Isto sim, era um Manifesto! O anti-
-Dantas do jovem Almada (tinha 23 anos) de tão grata memória. Um
Manifesto que acaba com coisas que a gente percebe. Como: "Portugal que
com todos estes senhores conseguiu a classificação do país mais atrasado
da Europa e de todo o Mundo! O país mais selvagem de todas as Áfricas! O
exílio dos degradados e dos indiferentes! A África reclusa dos
europeus! o entulho das desvantagens e dos sobejos! Portugal inteiro há
de abrir os olhos um dia - se é que a sua cegueira não é incurável - e
então gritará comigo, a meu lado, a necessidade que Portugal tem de ser
qualquer coisa de asseado! Morra Dantas, morra PIM!"
Dos outros manifestos, o dos 40 ou dos 70, desses, está o Inferno cheio.
É
que na melhor das hipóteses não passam de boas intenções. Geram
notícias e declarações, virulentas reações, tudo bastante inútil quando
se percebe que se trata de simples opiniões!
Pensar que uma
matéria deste calibre pode ser gerida a partir de um manifesto é coisa
que não entendo, nem eu, nem muito boa gente. Pensar que 70 almas,
tantas delas tão cansadas, leram, discutiram e consensualizaram uma
posição concreta sobre seja o que for é irreal. Perceber que muito pouco
do que se escreve é objetivo e consequente é tarefa muito rápida, o que
relega todos os autores para o campo de um oposicionismo superficial e
difuso.
Para ter mais "pique" apela-se à reestruturação da dívida.
No entanto, durante todo o texto apenas se fala da renegociação da
dívida para prazos mais condizentes com as nossas previsíveis
capacidades de libertação de fundos e a preços médios mais convenientes
tendo em conta o pesado fardo de encargos financeiros que carregamos.
Tudo isto devidamente compaginado com as janelas de oportunidade
que a própria União nos irá oferecendo à medida que for evoluindo na
construção dos mecanismos que preveem um atenuar dos fardos nacionais
(não apenas no caso dos países intervencionados) e ainda a prorrogação
de parte das responsabilidades de acordo com um conjunto firme de
compromissos.
Ou seja, se não houver guerra na Europa, veremos
todos o dia em que a União Bancária será um facto, o crescimento mais
harmonioso de todos os países um desejo assumido e o aproveitamento dos
chamados "redemption funds" uma realidade ao nosso alcance.
Nada
disto tem a ver com o que nos espera a curto prazo. Nada disto tem a ver
com a saída à portuguesa, à irlandesa ou à chinesa.
Podia ser
apenas uma chinesice se não tivesse um impacto político óbvio, não
provocasse igualmente reações óbvias e não nos deixasse a todos ainda
mais céticos quanto à lucidez das nossas elites políticas.
Enquanto
cidadã espero que me expliquem, com contas e face ao que é realmente
possível, como será o pós-junho de 2014. Que hipóteses podemos formular,
quais os custos e vantagens de cada uma e que riscos devemos assumir
tudo ponderado. Com tempo e com linguagem que se perceba. Já agora vindo
de quem nos governa se é que a democracia vale de alguma coisa.
Se
ninguém pode dizer nada ainda que vagamente parecido com isto, desde
logo pela amplificação mediática tantas vezes prejudicial, então façamos
figas para que quem tem a responsabilidade de decidir faça bem as
contas e pondere bem os riscos.
Qualquer coisa menos objetiva do
que isto não serve. Soa a mediatismo, a protagonismo e a amadorismo. Não
colhe. É encarado com um encolher de ombros. Dado a 70 pessoas de uma
só vez. Com pena, porque muitas destas pessoas serviram o país.
E,
no entanto, preparar com muita calma e muita lucidez o caminho que a
União devagarinho vai fazendo não é apenas importante. É desígnio
nacional. Mas não se parece com o enunciar vago de um texto de jornal.
Deve ser esforço diário de todos aqueles que aos mais variados níveis
podem conhecer e estudar, influenciar ou ajudar a desenhar decisões ou
políticas.
Todos ou quase todos os que assinam o Manifesto o podem fazer.
A persistir a deriva literária então viva o Manifesto anti-Dantas e por extenso!
IN "JORNAL DE NOTÍCIAS"
13/04/14
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