“Melhor” não é suficiente
Quem se atribui o mérito da chuva não se pode surpreender de ser culpado pela seca. Não é uma boa política exaltar as aparentes melhorias da posição do País nos mercados financeiros porque, como a recente instabilidade dos mercados demonstra, os países periféricos acabam por ser considerados os emergentes da Europa.
Não tenho dúvida sobre o início da melhoria do
País, após seis anos de quedas sucessivas dos indicadores mais
relevantes. Mas não é suficiente. Apesar da recuperação financeira,
possivelmente circunstancial e frágil, não conseguimos uma verdadeira
recuperação económica porque, para isso, o dinheiro deve ainda chegar às
empresas e as famílias e não só aos mercados de mão dos intermediários
financeiros e dos grandes investidores, quebrando o circuito fechado de
dinheiro barato entre bancos centrais e comerciais em que na atualidade circula.
Para conquistar uma verdadeira recuperação económica temos, no
mínimo, três trabalhos hercúleos: limpar os restos da velha economia,
construir os fundamentos da nova e criar mecanismos para diminuir a
possibilidade de recriar os cenários que provocaram a situação atual. Os
dois primeiros desafios são fundamentalmente internos, mas o terceiro é
global. Até não sermos bem sucedidos nesta transformação, estaremos
provavelmente condenados a viver num cenário de estagnação económica com
rajadas de aparente melhoria económica, em contraposição a um cenário
pré-crise em que a normalidade residia no crescimento permanente
interrompido por crises de duração limitada no tempo. O único antídoto
para este cenário de estagnação global, suportado em níveis excessivos
de desemprego, dívida e deficit, é o crescimento económico que só pode
ser suportado em investimento produtivo que procure uma verdadeira
inovação. Esse é o único salva-vidas com o qual as economias podem
navegar num mundo com níveis de dívida tão elevados.
Mas além do atraso nos desafios internos de reformas económicas,
surpreende-me o conformismo global em relação à ausência de medidas
reais e efetivas para prever novas crises. Para minimizar o impacto das
próximas bolhas especulativas. Parece que apagar incêndios é mais
glamoroso do que evitá-los e que nos interessam mais as histórias sobre
os desastres do que a química dos materiais ignífugos.
Nas últimas semanas, a crise dos emergentes tem-nos colocado diante
do espelho. O rei ainda vai nu e os mercados estão-nos a alertar. Por
isso, não se deveria fazer do regresso aos mercados bandeira de nada.
IN "DIÁRIO ECONÓMICO"
07/02/14
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