15/02/2014

JOANA PETIZ

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Hoje fico eu à rabia

Aprendi ainda em miúda as vantagens de despachar logo aquilo que é mais desagradável. Nos meus primeiros jogos de rabia ou escondidas, perdíamos recreios inteiros a discutir quem seria o primeiro a apanhar ou a contar enquanto os outros fugiam e se escondiam. Então, comecei a oferecer-me para ser eu a procurar os outros em primeiro lugar. Assim, os 15 minutos eram realmente aproveitados na brincadeira e eu apenas ficava a apanhar no primeiro jogo – quem perdesse ocuparia a minha posição a seguir.

Quando as brincadeiras de criança passam a carreiras profissionais, a premissa mantém-se: só tem a ganhar se começar por aceitar o trabalho que ninguém quer fazer. A seu tempo virão as tarefas que realmente lhe despertam interesse.

Em vez de esperar que lhe despejem em cima aquele dossier de que todos andam a fugir, seja pro-activo: ofereça-se para tratar do assunto. Mas empenhe-se a sério – sim, o trabalho é chato, mas alguém tem de o fazer e se despachar tudo à primeira, com profissionalismo e competência e sem perder tempo a lamentar-se, será recompensado.

Para começar, dificilmente terão coragem de lhe pôr nas mãos o próximo projecto rejeitado quando ajudou a equipa a esquivar-se de um problema. E mais do que isso, ao ser-lhe reconhecida a capacidade de tomar decisões e avançar sem que o empurrem, na próxima distribuição de tarefas, poderá agarrar alguma coisa um bocadinho mais de acordo com os seus interesses sem que os outros se atrevam a disputá-la consigo. Ou mesmo sair da caixa e apresentar uma proposta sua.

Se conseguir manter-se consistentemente interessado e visivelmente activo, aceitando de vez em quando “ficar à rabia”, começarão a contar mais consigo e poderá começar a reclamar para si trabalhos que se adequem mais às suas áreas de interesse.

E sua atitude decerto não passará despercebida ao seu chefe – mesmo que tenha de dar um empurrãozinho à sua notoriedade. Quando o apanhar descontraído, aborde-o com entusiasmo sobre aquele projecto que acabou de sair das suas mãos e que será capaz de trazer algo realmente bom à empresa.
No fim de contas, pode até descobrir que conseguiu construir o seu emprego de sonho.

Chefe de redacção adjunta do Dinheiro Vivo

IN "DINHEIRO VIVO"
10/02/14
 


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