Desemprego pela vida
São os herdeiros da classe média, que se
sacrificou para garantir a ascensão social dos seus filhos. Hoje, muitos
deles, estão desempregados ou a saltar de emprego em emprego sem
perspectivas de construir uma carreira, um lar e uma família com filhos.
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É o mais grave problema de
Portugal, dos europeus em geral, dos norte- -americanos e dos países que
no Norte de África apostaram na educação e formação e hoje não têm
emprego para os seus jovens. Do emprego para a vida, chegámos ao
desemprego pela vida. Ou para toda a vida, como vai inevitavelmente
acontecer a muitos dos jovens que acabaram a sua formação em plena crise
das dívidas soberanas e intervenção da troika.
Em
Portugal, quase 40% da população activa com idades entre os 15 e os 24
anos está desempregada. Ou seja, e porque só assim constam das
estatísticas, declara-se à procura de emprego e disponível para
trabalhar. Já foi pior. Está a melhorar. Mas quem olhar para o problema
do desemprego dos jovens - como para o desemprego em geral - apenas com a
visão curta da evolução das estatísticas a curto prazo não compreende o
problema na sua totalidade. E assim não conseguirá perceber os riscos
que o país enfrenta.
Os jovens adultos que chegam ao
mercado de trabalho em períodos de recessão económica "tendem a
considerar que o sucesso individual depende mais da sorte do que do
esforço e tendem a apoiar mais as políticas redistributivas do Estado e a
ter menos confiança nas instituições". A conclusão é de um estudo de
2009 de Paola Giuliano e Antonio Spilimbergo e o alerta foi feito pelo
governador do Banco de Portugal, numa conferência da ACEGE em 25 de
Janeiro.
Os desequilíbrios do mercado de trabalho,
consequência da crise e do choque tecnológico, são mais um factor que
alimenta o agravamento das desigualdades na distribuição do rendimento e
que ameaça seriamente a classe média, exactamente aquela que suportou a
estabilização das democracias ocidentais.
A edição
desta terça-feira, que olha para o desemprego jovem nas suas diversas
perspectivas, dá um retrato do que é hoje o mercado de trabalho para os
jovens. Empregos há, para quem é qualificado em áreas como a engenharia,
tecnologias de informação, gestão, marketing e saúde. E aos jovens não
se pede hoje apenas conhecimento puro e duro. É preciso que possuam
também aquilo que se designa como ‘soft skills’. Ou seja, capacidades de
comunicação, de trabalho em equipa, de relacionamento interpessoal e de
resolução de problemas.
Não há empregos para
qualificações médias, sejam estas medidas em anos de escolaridade ou em
qualidade média. Há empregos pouco qualificados ou muito qualificados.
Com
o actual retrato do mercado de trabalho, a resolução do problema do
desemprego jovem exige uma intervenção de elevada qualidade das
políticas públicas. É preciso actuar nos conteúdos da educação e,
especialmente, na formação profissional. Tudo aquilo que o Estado faz
mal.
A intervenção dos governos tem sido
catastrófica ao nível da formação profissional - nada sabemos sobre os
efeitos das verbas europeias. E as políticas que hoje existem limitam-se
a distribuir dinheiro ou a reduzir os custos salariais das empresas.
O
emprego para a vida deu lugar ao desemprego pela vida fora desde muito
jovem. Se este for o futuro, haverá jovens e pais de jovens que não o
vão querer aceitar. Quando a classe média, pilar das democracias, se
começa a desfazer, o futuro não pode prometer prosperidade e bom senso.
Directora
IN "JORNAL DE NEGÓCIOS"
24/02/14
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