HOJE NO
"JORNAL DE NEGÓCIOS"
Apenas um em vinte jovens
ganha mais de 900 euros
Jovens são um dos grupos mais prejudicados pelo
desemprego e precariedade. Longos períodos sem trabalho podem deixar
cicatrizes profundas.
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Quatro em cada dez jovens portugueses estão desempregados. Com 137 mil à procura de trabalho, a taxa de desemprego de 37,7% é uma das mais altas da Europa (era 18% em 2008). Mesmo os que conseguem encontrar emprego,
vêem-se confrontados com uma forte segmentação do mercado de trabalho.
Quase 60% dos empregados por conta de outrem têm vínculos precários
(contrato a prazo ou recibo verde) e o seu salário médio líquido é 515
euros. As estimativas do INE apontam para que, entre a geração mais
qualificada de sempre, apenas 4% esteja a receber mais de 900 euros.
Numa
situação de crise económica, é comum os mais jovens serem um dos grupos
mais afectados. As empresas fecham a torneira das contratações e muitas
recorrem ao despedimento. O custo é um critério importante. É mais
fácil despedir alguém que trabalhe há um ano na empresa, com contrato a
prazo e um salário de 600 euros do que quem esteja nos quadros da
empresa há 20 anos, com um salário de 1.500 euros e uma indemnização
mais elevada.
O engrossar do número de de-
sempregados torna a concorrência mais feroz para os jovens que acabam de
sair da universidade sem qualquer experiência profissional. O risco é
entrar num ciclo vicioso. Vários estudos concluem que, quanto mais tempo
se está alienado do mercado de trabalho, mais difícil é entrar ou
regressar. Além da degradação das capacidades e motivação, começa a
instalar-se um preconceito entre os empregadores. Longos períodos de
desemprego influenciam salários futuros e até a performance académica
dos futuros filhos. No final de 2013, 45% dos jovens portugueses
desempregados estavam sem trabalho há mais de um ano. Em 2011 eram 32%.
Um
estudo de 2009 citado há um mês pelo governador do Banco de Portugal
concluía que jovens adultos que entram no mercado de trabalho num
período de recessão "tendem a considerar que o sucesso individual
depende mais da sorte do que do esforço".
Para os
responsáveis políticos pode ser tentador dar menos relevância aos
jovens. Normalmente têm o apoio dos pais, poucas obrigações financeiras e
muito tempo pela frente para inverterem a sua situação. Muito
importante: muitos ainda não podem votar e outros abstêm-se. No entanto,
Portugal já assistiu aos protestos da "Geração à Rasca". Lá fora os
protestos multiplicam-se. Das praças ocupadas pelos "Indignados" e
"Occupy" às revoluções semeadas e ditadores derrubados no Norte de
África. O rastilho que fez explodir a Primavera Árabe esteve ligada a
uma juventude desempregada, sem perspectivas de futuro e sem nada a
perder.
Entre os países da OCDE, a taxa de
desemprego jovem está nos 16,5%, cerca de 2,5 vezes o superior ao valor
registado em faixas etárias acima de 25 anos. "Em todos os países existe
um grupo de jovens que enfrentam várias combinações de desemprego
elevado e persistente, baixa qualidade dos trabalhos que encontram e
risco elevado de exclusão social", escrevem os técnicos da OCDE,
acrescentando que, num contexto de envelhecimento da população, integrar
este grupo "é crucial não só para melhorar as suas perspectivas de
emprego e bem-estar, como para fortalecer o crescimento económico,
equidade e coesão social."
* Apenas 5% dos jovens ganham mais de 900 €, humilhante, há licenciados em farmácia e médicos veterinários a ganhar bem menos.
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