25/02/2014

LUCY KELLAWAY

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Sabia que a conversa 
de circunstância pode
impulsionar a sua carreira?

Conheço uma jovem que trabalha numa empresa de media a quem o chefe chamou à parte para dizer que, embora seja uma profissional competente, tem um problema: fala pouco.

Por outras palavras, não tem queda para fazer conversa de circunstância. A jovem ficou indignada por ter sido repreendida por fazer o seu trabalho quando, pelos vistos, devia estar a discutir qual o restaurante mais ‘cool' para tomar um ‘brunch' ou a porção ideal de pinhões na confecção do ‘pesto'.

Quando me contou o sucedido, lembrei-me de um comentário de Inga Beale que os media recuperaram no ano passado quando assumiu a presidência da seguradora londrina Lloyd's, um bastião masculino por excelência. Na sua opinião, o que faz com que as mulheres fiquem em segundo plano não é a falta de ambição ou o excesso de responsabilidades domésticas, mas o facto de não socializarem o suficiente com os colegas - leia-se alimentar conversas fúteis.

Isto é perfeitamente absurdo. Primeiro, toda a gente sabe que as mulheres falam pelos cotovelos. Pelo que me toca, tenho o prazer de anunciar que inaugurei recentemente a quarta década de TNT (‘tagarelice no trabalho'). Segundo, a conversa de circunstância não é o melhor caminho para chegar ao topo. O meu sucesso no trabalho não releva dessa qualidade, mas sim da minha teimosia em arranjar uma mala que reúna duas especificidades: tem de ser gira e adaptar-se à bicicleta.

Seja como for, não esqueço que já me criticaram por ter tecido generalizações com base numa amostra composta por uma única pessoa, pelo que estou a averiguar com a máxima seriedade se o meu histórico de tagarelice se enquadra, ou não, nos padrões normais. Não tem sido fácil. Louann Brizendine referia no livro ‘The Female Mind', publicado em 2006, que as mulheres debitam 20 mil palavras por dia, enquanto os homens proferem um total de sete mil palavras. Porém, há estudos que contestam estes números e avançam outra conclusão: ambos os sexos dizem, em média, 12 mil palavras por dia.

Mesmo que isto seja verdade, não nos elucida sobre se homens e mulheres falam muito ou pouco no local de trabalho. Para poder chegar a alguma conclusão, passei as últimas semanas a deambular pelos gabinetes dos meus colegas. Primeiro, fiquei surpreendida por não apanhar ninguém em amena cavaqueira. Imaginei que o faziam via Twitter ou Facebook por ser mais discreto. Quando encontrei uns quantos na conversa - eis a segunda surpresa -, verifiquei que só havia homens no grupo.

Talvez as mulheres prefiram conversar com outras mulheres ou talvez a verdadeira explicação tenha a ver com a família: as mulheres preferem ser eficientes porque têm de ir para casa tomar conta dos filhos. Quando os meus eram mais pequenos, tinha de sair do jornal às 17h55, impreterivelmente, para substituir a ama nessa nobre missão. Até eu preferia aplicar-me no trabalho em vez de estar na conversa. As mulheres sem filhos também têm direito de escolha, ou seja, não são obrigadas a aturar a conversa de circunstância dos colegas quando podem conversar a sério com os amigos.

A ansiedade é outra explicação possível. Desconfio que a maior parte das mulheres não gosta de ser associada a frivolidades no trabalho, enquanto os homens se estão a borrifar para isso. Um colega do jornal passa o dia inteiro a falar sobre críquete e por vezes apanho-o a jogar golfe com um chapéu-de-chuva e uma bola anti-stress à volta da secretária. Ninguém o considera frívolo. Pelo contrário, dizem que é um tipo bem disposto.

Será que uma actividade mais feminina como o tricô tem a mesma aceitação? Fiz a experiência na semana passada, mas foi um fiasco. Vários colegas olharam para mim, desconfiados, e um deles chegou a comentar que devia ser "mais uma gracinha" para a minha coluna no jornal. Apetece perguntar: isso de as mulheres falarem pouco no trabalho é assim tão importante? É, porque quanto mais falamos, mais gostam de nós.

A tal jovem mudou de estratégia e passou a dedicar uns minutos por dia à conversa de circunstância como se isso fizesse parte do seu trabalho. Ainda agora começou, mas diz que está a dar bons resultados.

Lucy Kellaway é editora e colunista do Financial Times', onde escreve sobre temas de gestão, trabalho e carreira. Além de artigos de opinião, escreve no blogue ‘Dear Lucy'
sobre assuntos do quotidiano das empresas e responde às mais variadas questões sobre dilemas da vida profissional.

IN "DIÁRIO ECONÓMICO"
24/02/14


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