Quem ganhará na Síria?
Siga a pista do petróleo
Muito deve a
companhia russa Soyuzneftegaz saber sobre o futuro da guerra síria para
assinar um contrato de exploração petrolífera válido por 25 anos com o
regime de Assad. E se essa informação vier do Kremlin não fiquemos
surpreendidos. Afinal, a empresa é gerida por um antigo ministro da
Energia e tem como acionista o Banco Central da Rússia.
Em causa
está boa parte dos 1,7 mil milhões de barris de petróleo e 3,4 biliões
de metros cúbicos de gás que o instituto geológico dos Estados Unidos
calcula haver no Mediterrâneo Oriental, entre Chipre e Israel.
Encontra-se
nos fundos marinhos junto da região dominada pela comunidade alauita,
aquela a que pertence Assad. E, como feliz coincidência para a
Soyuzneftegas, mesmo frente a Tartus, onde existe uma base naval russa
há mais de quatro décadas.
Nada é certo no negócio fechado há
dias, nem o valor do investimento (15 milhões de dólares, mais 75 numa
segunda fase) nem o início da exploração, muito menos se os
hidrocarbonetos corresponderão à expectativa. Mas do ponto de vista
político, é um sinal de confiança da Rússia no seu aliado no Médio
Oriente. E em vésperas da conferência de Genebra sobre o futuro da
Síria.
No mínimo, Moscovo está a reafirmar que Assad conta com o
seu apoio, no máximo a deixar implícito que, pelos seus cálculos, a
guerra iniciada em março de 2011 terminará mesmo com a derrota dos
rebeldes.
Que o petróleo ganhe destaque neste conflito na Síria é
uma surpresa. Antes da revolta contra Assad, cuja família manda em
Damasco há quatro décadas, a produção bastava para as necessidades
locais e pouco sobrava para exportar. Nada comparável ao Iraque, à
Arábia Saudita ou ao Irão, portanto.
Por isso, ninguém associou a
rebelião com a habitual acusação de cobiça pelo petróleo sempre que há
guerra no Médio Oriente (lembra-se de os americanos e britânicos
derrubarem Saddam? Exxon, BP e Shell voltaram em força ao Iraque). Em
causa na Síria estava mais uma revolta da Primavera Árabe, quando muito
um levantamento da maioria sunita contra a coligação de minorias
(alauitas, cristãos e drusos) que serve de base ao regime criado por
Assad pai em 1970.
Depois de Ben Ali, Mubarak e Kadhafi, também
Assad parecia condenado. O Ocidente estava contra ele, os árabes também,
a Turquia ainda mais. Só Rússia e China impediam condenação pela ONU,
apenas Irão e Hezbollah ajudavam a resistir. E quando Obama ameaçou
retaliar contra as armas químicas, o fim era tido como certo.
Tudo
mudou, mais por influência alheia do que por mérito de Assad, mas pouco
importa. Erdogan, na Turquia, tem hoje mais com que se preocupar e as
monarquias do Golfo estão assustadas é com as hipóteses de entendimento
entre o Irão e a América. Além disso, a diplomacia de Putin trouxe os
inspetores da ONU para tratar dos químicos, tranquilizando Obama. E a
força da Al-Qaeda entre os rebeldes pô-los a combater uns contra os
outros e a perder o acesso a armas que nunca se saberia a que mãos iam
parar.
Se Assad vai ganhar? A nova pista do petróleo diz que sim.
Como avançou já um ex-chefe da CIA, a sobrevivência do regime até é a
menos má dos três cenários, as outras sendo a divisão do país ou a
eternização da violência sectária. Absurdo regresso ao princípio, cem
mil mortos e dois milhões de refugiados depois. Ninguém assumirá culpas.
IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
30/812/13
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