O que (ainda) falta
para chegar a 2015
Daqui a precisamente um ano estaremos de novo a fazer contas ao que pedimos agora, nestes primeiros dias de 2014, e ao que desejamos que se cumpra no ano que se segue.
É assim todos os anos. Os sonhos são revistos,
as metas reavaliadas, as prioridades definidas, os projectos
reinventados, os desejos renovados. E a resistência testada - uma vez
mais, até ao limite. E assim se arranca para um novo ano, a esperar
sempre mais do que no ano que fechou. E esperar mais, num ano como 2014,
quer dizer que se espera muito. Há um país inteiro que espera ver a
‘troika' pelas costas daqui a menos de seis meses, que espera ver nessa
saída um sinal de que o Estado recuperou o equilíbrio financeiro e pode
caminhar nos mercados pelo seu próprio pé e cumprir os seus encargos
financeiros sem perder a mão nas suas contas.
Há um país que acredita que a economia vai crescer, pouco, mas ainda
assim crescer, porque já tem pouco por onde encolher, que acredita que
vai exportar mais e importar menos. Há um país que deseja que os 120 mil
empregos líquidos criados no ano que fechou não tenham sido uma miragem
e que este ano se continue a criar mais trabalho do que aquele que se
destrói. E que o esmagamento salarial, que muito ajudou às margens de
lucro de empresas, se inverta e os rendimentos voltem a crescer em vez
de minguar. Há um país que gostaria de ver o torniquete dos impostos
aliviar, de se livrar da austeridade, de ter um Estado mais eficiente,
de destruir proteccionismos injustificados, de acabar de vez com
desequilíbrios sociais, de ser poupado a caprichos políticos e
instabilidades governativas. Ah... e há ainda um país que sonha
regressar do Brasil com um título de campeão mundial nas mãos para
reavivar uma auto-estima nacional que anda de rastos.
É isto que o país espera. Mas este não pode ser o retrato de um país à
espera. A ‘troika' não nos deixará tão cedo enquanto houver notas de
cobrança de milhões para pagar e o país não garantir formas sustentáveis
de o fazer - e que vão muito para além de 2015.
A economia não crescerá como se deseja se o consumo esfriar, o
investimento fugir ou as exportações arrefecerem - e esses riscos estão
todos aí. Os empregos não vão cair do céu, porque dependem de tudo isto e
de um mercado onde as empresas possam respirar e pagar menos impostos -
e os salários não vão aumentar enquanto a austeridade obrigar a apertar
cintos e a fechar carteiras. O Estado continuará obeso e ineficiente
enquanto resistir a cortar nos seus próprios abusos (que custam
dinheiro), a reduzir os privilégios intocáveis de alguns grupos (que
empatam dinheiro) ou a resolver de vez o que é mal gerido (e que perde
dinheiro). A inquietação social continuará a minar as empresas, os
sindicatos e as ruas se falhar tudo o que se planeia.
E, mesmo no Mundial de Futebol, que ninguém espere vitórias fáceis,
se cada um dos jogadores não vestir a camisola, ‘comer a relva' e
lembrar-se que não depende apenas de si quando entra em campo. É isso
que 2014 vai exigir, se o país quiser chegar ao final do ano com alguns
triunfos. Vai ter de trabalhar (mais) por um emprego e um salário, vai
ter de investir (mais) para criar mais projectos e ver a economia
crescer, vai ter de sofrer (mais) para reformar a gestão do Estado, vai
ter de resistir (ainda mais) para sobreviver à austeridade, vai ter de
confiar (mais) para saber para que lado deve remar. Daqui a um ano,
seria bom estar a fazer contas ao que fizemos e conseguimos - e não ao
que esperamos e não aconteceu.
IN "DIÁRIO ECONÓMICO"
02/01/14
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