HOJE NO
"DIÁRIO ECONÓMICO"
No Montepio “fala-se”
em remuneração de 5%
O Diário Económico dirigiu-se aos balcões do Montepio, enquanto cliente-mistério, para perceber como estão a ser vendidas as unidades de participação do banco, um produto inédito em Portugal.
Aos balcões do Montepio os gestores não garantem a remuneração, mas
dão perspectivas de um rendimento atractivo. "Fala-se de 5%. Mas não é
certo". Num segundo balcão: "As perspectivas são de que venha a render
5%". Acrescentando: "Entre 5% a 7%". Rendibilidades interessantes que
não passam, no entanto, de palpites (em nenhum momento referidas nas
condições da operação, descritas no prospecto divulgado ao mercado).
O Montepio está a realizar, até 13 de Dezembro, uma operação de
aumento de capital no valor de 200 milhões de euros, através da
subscrição, principalmente junto de clientes, de unidades de
participação representativas do capital institucional do banco. Estes
títulos não garantem qualquer remuneração, ficando a mesma dependente
dos resultados alcançados pelo Montepio. Nos três balcões visitados pelo
Diário Económico enquanto cliente-mistério, para além de mencionar a
hipótese de uma taxa de remuneração, os gestores apontaram 2015 como
data da primeira distribuição de resultados, alguns como data
indicativa, outros como data garantida.
Questionado sobre a mensagem passada aos balcões, fonte oficial do
Montepio frisa que: "Internamente está vedada a indicação de quaisquer
rendimentos indicativos, na medida em que a remuneração das unidades de
participação (UP) representativas do Fundo de Participação não está
definida à partida e será função, entre outros factores, da evolução da
actividade e resultados da Caixa Económica Montepio Geral (CEMG)".
Já em relação à data avançada, 2015, o banco responde que: "A CEMG
distribuiu resultados até 2012 mas este histórico nunca deverá ser
encarado pelos potenciais investidores em UP como garantia, ou mesmo
indicador de rendibilidade das mesmas no futuro". "Todavia, as
perspectivas de evolução de actividade sustentam a expectativa de
distribuição de rendimentos a partir de 2015, embora não seja possível
garantir antecipadamente qualquer remuneração dada a natureza do valor
mobiliário", adianta. O ponto de partida é um prejuízo que, nos
primeiros nove meses do ano, somava os 205,2 milhões de euros, por conta
sobretudo de uma provisão extraordinária de 125 milhões de euros
determinada pelo Banco de Portugal.
Balcões ignoram riscos
De acordo com o próprio prospecto, este produto encerra dois
principais riscos: o de liquidez e o da hierarquia de credores. Ambos
ignorados aos balcões do banco. Todos os gestores equipararam as
unidades de participação a acções, frisando a possibilidade de serem
vendidas posteriormente em mercado secundário. Não referiram no entanto o
risco de falta de liquidez destes títulos.
"A falta de liquidez pode ter um efeito adverso na evolução das UP
pelo que, por forma a salvaguardar o interesse dos investidores, foi
estabelecido um contrato de liquidez, válido por um prazo mínimo de seis
meses, o que contribuirá para mitigar o risco de liquidez", refere o
Montepio. O prospecto do produto faz referência a este contrato,
assinado por seis meses - não refere no entanto a existência de um
"prazo mínimo de seis meses" - o qual cessa automaticamente se o
Montepio Investimento atingir uma posição máxima de 20 milhões de euros,
com um tecto também de um milhão por dia. A este respeito, o Montepio
acrescenta: "Sendo um valor mobiliário representativo de capital, e à
semelhança das acções, entre outros valores mobiliários, será sensível
aos factores de risco que condicionam a evolução dos mercados
financeiros e nesse sentido tanto poderão ocorrer valorizações como
desvalorizações de acordo com os desenvolvimentos futuros".
Já o risco de perda de capital em caso de necessidades de injecções
de capital por parte do Estado, ou perante um potencial risco de
insolvência do banco, apanhou mesmo os gestores desprevenidos: "Essa é
uma boa pergunta, deixe-me ver no prospecto", foi a resposta de um dos
gestores quando questionado. Já na opinião de outro responsável, tal
constitui apenas o "risco de mercado". Um risco importante quando está a
ser preparada nova legislação que obrigará estes credores a serem os
primeiros a sofrer perdas em caso de necessidade de capital do banco. Na
hierarquia de credores, estes surgem depois dos subordinados.
Na rede comercial há a convicção, expressa ao cliente-mistério, de que a procura será elevada, o que levará a rateio.
* Com papas e bolos......
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