Portugal não é
[inserir nome de país ainda mais desgraçado]
Deve consolar-nos que, por enquanto, possamos continuar a dizer
que Portugal não é a Grécia. Mas, como todos sabemos, o ideal era que
um dia pudéssemos dizer, finalmente e com propriedade: "Portugal não é
Portugal"
Portugal não é a Grécia. Já esteve mais longe de
ser, mas dizem que ainda não é. Portugal também não é a Irlanda. Durante
um tempo parecia mesmo que era, mas afinal a Irlanda está bastante
melhor do que nós. Neste momento, ninguém sabe o que Portugal é. Nem o
que Portugal não é, o que também acaba por ser inquietante. Já não
podemos identificar-nos com os países que estão no bom caminho e começam
a faltar países desgraçados dos quais nos possamos destacar.
Compreende-se que Portugal aspire a ser outro país. É o
equivalente, para as nações, à formulação infantil "quando for grande
quero ser". O problema é que Portugal tem quase 900 anos. É um pouco
tarde para estar a escolher saídas profissionais e modelos a seguir. É
possível que o nosso tempo tenha passado e Portugal seja agora um país
da geração nem-nem: nem trabalha, nem estuda. Não trabalha porque o
desemprego continua elevadíssimo; não estuda porque não vale a pena. Não
trabalha porque ninguém tem dinheiro para comprar o que as empresas
produziriam; não estuda porque já não há fundos europeus para Passos
Coelho e Miguel Relvas criarem empresas de formação que ministram cursos
para cargos que nunca existiram.
Não sei bem se querer ser a Irlanda revela falta de brio ou ambição
desmedida. Aspirar a ser um pequeno país europeu talvez seja sonhar
acima das nossas possibilidades. O melhor seria, provavelmente, que
Portugal começasse por querer ser um país médio de África, e depois
então tentar dar o salto e procurar estar à altura de ser um pequeno
país europeu. Ou então apontar realmente para cima e tentar ser, por
exemplo, a China. Em termos de direitos laborais e nível salarial já
está ela por ela, portanto só falta o crescimento económico, que é o
mais fácil.
Talvez esta perspectiva seja demasiado pessimista. Creio que deve
consolar-nos que, por enquanto, possamos continuar a dizer que Portugal
não é a Grécia. Mas, como todos sabemos, o ideal era que um dia
pudéssemos dizer, finalmente e com propriedade: "Portugal não é
Portugal."
IN "VISÃO"
28/11/13
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