HOJE NO
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Xanana culpa Dilma por falta de acordo para ajudar Portugal a sair da crise
Em Estrasburgo, o primeiro-ministro timorense falou com o i sobre o fundo que não chegou a ser criado, sobre o caso sunrise e sobre a sua saída do cargo até 2015
O
primeiro-ministro timorense, Xanana Gusmão, sentiu-se na obrigação
moral de ajudar Portugal a encontrar uma saída para a crise e foi ao
Brasil negociar com a presidente Dilma Rousseff um empréstimo. O plano
incluía a participação de Angola, que caberia ao presidente Ramos Horta
convencer.
Xanana Gusmão contou ao i os bastidores da história, à margem
do prémio Sakharov, entregue à jovem paquistanesa Malala Yousafzai, no
Parlamento Europeu, em Estrasburgo.
"Acompanho a situação em Portugal desde 2008. A ideia era que os três
pudessem ajudar, não a salvar Portugal, mas dar algum apoio e mostrar
às organizações financeiras internacionais que há um país em crise. Nós
temos essa experiência, sabemos dizer exactamente de que forma poderia
ser ajudado, já sabemos o que resulta e o que não resulta."
O primeiro-ministro timorense chegou a ir ao Brasil encontrar-se com
Dilma e ficou definido que, depois, o presidente Ramos Horta iria a
Angola pedir uma contribuição. "O tempo foi passando e, quando Dilma foi
a Portugal e tomou consciência do valor da dívida saiu um bocadinho a
correr assustada com os números. E eu creio que também me assustei.
Senti uma obrigação moral de ajudar, mas quando foi anunciado o valor da
dívida percebemos que estava fora do nosso alcance, o plano era maior
do que as nossas capacidades, não dava", confessou Xanana Gusmão.
Agora, é tarde de mais. Ainda assim, e "como observador", Xanana
Gusmão atreve-se a dizer que "o políticos portugueses falam de mais e é
tempo de se deixarem disso. Cada um quer liderar qualquer coisa que não
existe e quem está a sofrer é o povo, quem está a sofrer é a nação",
lembrou. "Em Portugal falhou o controlo, mas agora não vale a pena
estarem a apontar os dedos uns aos outros, assim não se anda para a
frente. O que é preciso é encontrar uma solução".
Caso Sunrise
Gusmão foi parco em palavras quanto ao caso Greater Sunrise, meses
depois de Timor ter acusado a Austrália de espionagem de informação
confidencial sobre a exploração de gás e petróleo no Mar de Timor. Em
causa está o Tratado sobre Determinados Ajustes Marítimos no Mar de
Timor, assinado pelos países em 2007 para facilitar a exploração dos
recursos na zona marítima fora da Área Conjunta de Desenvolvimento do
Petróleo.
No final de Abril, Xanana escreveu a Camberra e declarou o tratado
inválido porque a Austrália "fez espionagem" durante as negociações do
Plano de Desenvolvimento do campo de exploração de gás Greater Sunrise,
que criou um impasse entre a petrolífera australiana Woodside e as
autoridades timorenses.
"A 5 de Dezembro o trio de arbitragem vai encontrar-se com as partes
para discutir as formalidades processuais", acrescentou sem mais
pormenores.
Xanana Gusmão anunciou que pretende abandonar o cargo de
primeiro-ministro até 2015. "Abandonar não, eu não vou abandonar. Eu vou
deixar o cargo para permitir à nova geração uma maior capacidade de
responsabilização. Nós, a geração mais velha, às vezes ficamos [na
política] como uma sombra e isso não ajuda as pessoas a produzir e a
demonstrarem participação, então é nesse espírito de deixar os mais
jovens enfrentar as dificuldades que decidi sair", explicou ao i.
* A Lusofonia usa muito pouco a solidariedade entre os países que a constituem.
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