HOJE NO
" PÚBLICO"
Autocarro é mais rápido e mais barato do que o novo comboio Porto-Vigo
Serviço ferroviário anunciado na última Cimeira Ibérica deixou várias
cidades sem ligação à Galiza, mas nem por isso supera a oferta
rodoviária existente, que faz a viagem em duas horas
O Governo decidiu e a CP executou. Em apenas um mês e meio, a
transportadora pública criou uma nova oferta entre Porto e Vigo, com
dois comboios por dia em cada sentido, que asseguram a ligação sem
"paragens" intermédias, diminuindo o tempo de percurso de três horas e
20 minutos para duas horas e 15 minutos. Mas esta redução não foi
suficiente para tornar o comboio mais competivivo do que os autocarros
que fazem esta mesma ligação.
O Celta não é competitivo com a oferta rodoviária entre Porto e
Galiza. A empresa Alsa dispõe de autocarros diários entre as duas
cidades, que demoram apenas duas horas pelo preço de 11 euros, enquanto o
comboio demora 2h15 e custa 14,75 euros. Esta evidência favorece as
posições dos autarcas que acusam a CP de ter matado as ligações
intra-regionais do Minho para a Galiza, pois, apesar de ter eliminado
todas as paragens intermédias, a transportadora pública nem assim
consegue um tempo mais rápido do que a rodovia.
Uma evidência que resulta de uma outra evidência: entre o Porto e a
fronteira espanhola há duas auto-estradas recentes, paralelas a uma
via-férrea do séc. XIX, de via única, que aguarda há décadas uma
modernização que não avança e da qual os próprios autarcas se
desinteressaram, encandeados que estavam com a promessa de um TGV, cujo
projecto foi abandonado.
À falta de TGV e de grandes projectos ferroviários, os Governos de
Portugal e de Espanha tiraram da cartola na última Cimeira de Madrid
esta ligação directa entre Porto e Vigo e a criação de um bilhete único
entre as duas cidades. E apesar de não haver qualquer estudo de mercado
que sustentasse tal decisão, a CP teve de entender-se com a Renfe (a sua
congénere espanhola) e com a Refer (que detém a capacidade dos canais
horários) para desenvolver esta ligação rápida.
O problema é que, sendo a linha de via única, este novo rápido pára
várias vezes para se cruzar com outros comboios. E até pára em Viana do
Castelo, a cidade que mais protestou por lhe terem retirado a ligação
directa à Galiza, que outras cidades - Famalicão, Barcelos, Caminha e
Valença - também perderam. Para mitigar a falta de ligações
intra-regionais com a Galiza, foram criados comboios curtos de Vigo a
Valença, que dão correspondência aos inter--regionais para o Porto.
O novo comboio pára em Lousado, Darque, Viana, Caminha e Valença para
efectuar cruzamentos, sem admissão ou saída de passageiros.
Por causa destas paragens, os comboios da Linha do Minho têm andado mais atrasados nos últimos tempos. A prioridade dada ao Celta
faz com que todos os outros tenham de encostar para este passar,
repercutindo-se os atrasos em toda a linha de via única ao longo do dia.
Esta situação levou a que, desde o início de Julho, a CP tenha feito
três alterações aos horários dos comboios da Linha do Minho.
Outro problema desta ligação é o material circulante: esperava-se que o
novo serviço fosse feito por um comboio novo, mais rápido e
confortável, mas as automotoras são as mesmas que circulam na Linha do
Minho.
No entanto, a Renfe possui material circulante de muito boa qualidade que poderia ser afecto a este serviço. Trata-se dos TRD (Tren Regional Diesel), de origem dinamarquesa, que circulam na Galiza e na Andaluzia, e que poderiam servir para realizar o tal comboio de charme
Porto-Vigo. Quanto a conforto e rapidez, estes TRD só são superados em
Portugal pelo Alfa Pendular. No entanto, não foi considerada a sua
afectação a este novo serviço.
Já o bilhete único anunciado como uma inovação na cimeira ibérica mais
não é do que a recuperarção de uma boa prática secular entre os
caminhos-de-ferro portugueses e espanhóis, que desde sempre venderam
bilhetes internacionais entre si. Apesar da modernidade e dos meios
informáticos, esta tradição foi quebrada há mais de 15 anos e os
passageiros para Vigo só podiam comprar no Porto um bilhete até à
fronteira de Valença, devendo o resto do percurso ser comprado ao
revisor. Uma situação anacrónica que não tem paralelo no resto da
Europa, onde os bilhetes ferroviários internacionais são comuns.
* Os experts dos transportes portugueses só têm dois neurónios que estão ocupados a comer pastéis de nata.
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