13/07/2013

ANTÓNIO COSTA

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É pior a emenda 
do que o soneto

Cavaco Silva conseguiu fazer o que parecia impossível depois dos últimos dez dias de crise política em que o País está mergulhado, acrescentou mais confusão e incerteza, tão desnecessária e inexplicável como a que foi criada por Paulo Portas e Pedro Passos Coelho.

O Presidente da República passou para o centro da decisão política em Portugal da pior forma, sem assumir as responsabilidades que deveriam ser suas, e ‘matou' este Governo. Só falta saber quando é o enterro e, a partir de agora, quanto mais tarde for, pior.

Em primeiro lugar, a proposta do Presidente da República é clara, mas pelas piores razões, e contraditória nos termos. E não agrada a ninguém. Cavaco Silva tem razão quando diz que o País vive momentos de excepção e que as eleições antecipadas, agora, teriam consequências absolutamente nefastas. Aliás, os primeiros 12 minutos de uma intervenção que durou quase 20 foram suficientemente claros do ponto de vista das consequências económicas e financeiras para assustar os portugueses sobre o que está em causa.

Depois da crise da última semana, Portugal ficou mais perto do segundo resgate, por responsabilidade exclusiva do próprio Governo, os mercados, e os credores, deixaram saber que não estavam dispostos a acreditar na capacidade do Estado português de cumprir os compromissos que assumiu com a ‘troika'. Os juros implícitos na dívida pública dispararam e a PSI20 deu um trambolhão. Felizmente, como Portugal tem o seu financiamento assegurado em 2013, o segundo resgate só se colocaria em 2014. Mas ficaram os avisos. A crise aproximou-nos desta novo resgate e de mais austeridade.
Ora, a solução política apresentada por Passos Coelho e Paulo Portas, necessariamente forçada e que suscita legítimas, para dizer o mínimo, dúvidas de credibilidade, era um mal-menor, precisamente para evitar o desastre que Cavaco Silva identifica. E para levar o País até Julho de 2014, quando termina o acordo com a ‘troika' que está agora em vigor. Mereceu, por isso, até o apoio explícito dos líderes europeus nos últimos dias.

Cavaco Silva disse que o Governo está em funções, mas deixou saber que não o quer, pelo menos não quer os seus líderes. E quer o PS e António José Seguro, que, sabe Cavaco, não quer apoiar ou integrar nenhuma solução sem eleições imediatas. Justiça seja feita, foi o PS o único dos partidos do arco de Governo a fazer uma declaração clara sobre a intervenção do Presidente. Sem a retórica vazia do PSD e do CDS. Mas Cavaco desresponsabiliza-se de assumir uma opção, não assume uma decisão e espera que outros o façam, por si, ou não o façam, e sejam responsabilizados por isso.

Perante a análise política do Presidente da República, só poderia haver uma de duas soluções: eleições antecipadas em Setembro, com os riscos que o próprio identificou, ou a manutenção deste Governo em verdadeira plenitude de funções, para cumprir o memorando da ‘troika'.

A terceira saída para esta crise - que vai ter seguramente consequências já a partir de hoje nos mercados - é a escolhida por Cavaco, a que se depreende da proposta de Cavaco, ou seja, um Governo de iniciativa presidencial. Mas, mesmo que os partidos do governo aceitem ‘correr' com Passos e Portas, o que está longe de ser certo, como é que é possível admitir que um Governo sem legitimidade política pode cumprir um memorando tão exigente e aguentar em funções até Junho de 2014?

Cavaco Silva não gosta destes líderes do PSD e do CDS, estará, até, legitimamente, zangando com a forma como foi destratado em todo este processo. Mas a sua resposta é a pior solução para o País e tenta ser a melhor solução para si, para salvar a sua posição. Mas engana-se, porque, a partir de agora, deixará também de ter o apoio do PSD e do CDS. De uma assentada, Cavaco acabou com este Governo, que deixou de ter condições para exercer as suas funções, acabou com a réstia de apoio que tinha e fragilizou o País e o regresso aos mercados.

DIRECTOR

IN "DIÁRIO ECONÓMICO"
11/07/13

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