Lição de cidadania
Greve foi uma mais-valia para a sociedade portuguesa e para a democracia
A Constituição da República Portuguesa garante o direito à greve, entre
outras formas de participação cívica e política, a qualquer cidadão
português. Os direitos que os trabalhadores adquiriram em 1976 só se
materializam quando exercidos e se justificam se reclamados e
vivenciados. O reconhecimento da legitimidade desses direitos é que leva
os cidadãos a requerê-los e exerce-los. A partir do momento que se
generalize perigosamente a dispensa do exercício dessas garantias por
quem de direito, abre-se o caminho para a sujeição a uma ordem
hegemónica e eliminação dos mencionados direitos.
Os professores grevistas são tantas vezes acusados de
irresponsabilidade, de estarem a fazer mal aos seus alunos, de impedirem
outros de trabalharem, de prejudicarem o País. Estas acusações não
passam indiferentes e condicionam os alvos, neste caso, os docentes, no
seu envolvimento nas greves, pois muitos assumem uma culpa infundada e
querendo manter a sua dignidade, abstêm-se de participar nos atos
reivindicativos mais intensos.
Convém lembrar que o benefício das oito horas de trabalho diário, o
usufruto dos dias de descanso semanal, o gozo das férias, o benefício
dos subsídios de férias e de Natal, os benefícios de Licença de
Maternidade, Subsídio de Casamento, Subsídio de Funeral, Subsídio de
Baixa Médica e de Desemprego, entre tantos outros, foram conquistas
feitas à custa de muito empenho e esforço durante décadas, o que levou à
dignificação do trabalho e dos trabalhadores. Retroceder pode ser
possível, mas não sem a firme e legítima resistência dos trabalhadores.
É pois, neste sentido, que considero um ato pedagógico aquele que se tem
vivido nas últimas semanas e cujos autores têm sido os professores,
educadores e investigadores. Num sentido social mais amplo, pode
dizer-se que esta greve foi uma mais-valia para a sociedade portuguesa e
para a democracia. A classe não se deixou intimidar pelas pressões
feitas pelo governo, “deu uma lição de dignidade e serviu de exemplo a
toda a função pública, a todos os trabalhadores, à sociedade portuguesa e
à democracia portuguesa. Os professores estão assim de parabéns, pois
voltaram a ser uma referência para a sociedade, uma referência contra o
autoritarismo e contra o medo” (São José Almeida, Público, 22 de junho
de 2013).
Deixo aqui a minha expressão de apreço e gratidão pelo esforço e empenho
dos professores que aderiram à greve às avaliações e à greve nacional
de professores e que vão aderir à Greve Geral do dia 27 e às lutas que
se podem seguir. A luta continua.
IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS DA MADEIRA"
25/06/13
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