HOJE NO
"PÚBLICO"
Estratégia nacional quer reduzir
consumo de sal para metade
Portugueses reduziram em um grama o sal que consomem. Mas o objectivo é baixar dos dez gramas diários para cinco.
Os portugueses consomem o dobro da quantidade de sal aconselhada: cerca
de dez gramas, quando a Organização Mundial da Saúde (OMS) aconselha
que não se ultrapasse os cinco gramas por dia (o que equivale a dois
gramas de cloreto de sódio). Houve progressos significativos nos últimos
anos, mas é preciso continuar, disse ao PÚBLICO Pedro Graça,
coordenador do Programa Nacional para a Promoção da Alimentação
Saudável, da Direcção-Geral da Saúde, e autor da nova Estratégia para a
Redução do Consumo de Sal na Alimentação em Portugal, agora apresentada.
Os avanços dos últimos anos devem-se à iniciativa para reduzir a
quantidade de sal no pão, mas também, diz Pedro Graça, a uma maior
consciencialização da indústria de restauração colectiva que assegura o catering
em escolas, hospitais e serviços públicos. "Há quatro ou cinco empresas
que têm 80% do mercado, basta estas alterarem as suas práticas para se
sentir o efeito."
O último estudo feito em Portugal foi realizado em 2012 pela Sociedade
Portuguesa de Hipertensão (SPH), através do método de análise da urina.
As conclusões indicam que a ingestão média é de 10,7 gramas de sal por
dia, enquanto estudos de 2006 revelavam uma ingestão média de 11,9
gramas.
A diminuição pode ser explicada, em parte, por os consumidores estarem
mais conscientes dos riscos do uso excessivo de sal, mas o consumo
doméstico representa apenas cerca de 30% do total. O relatório cita
estudos realizados em países ocidentais que mostram que entre 60% e 80%
do consumo de sal provém dos alimentos industrializados, de restaurantes
e cantinas - o mesmo confirmam estudos realizados em Portugal.
Isto significa que muito do trabalho tem de ser feito junto da
restauração e da indústria. A restauração é uma área mais difícil,
explica Pedro Graça, porque se trata geralmente de pequenos negócios
individuais. Mas a indústria tem reagido de forma positiva. Regista-se
já uma redução do sal nos cereais de pequeno-almoço, por exemplo, e
também nas marcas brancas de super e hipermercados nacionais.
Mas a crise traz novas preocupações. "A situação económica e a
fragilidade social de muitas famílias potenciam consumos aumentados de
produtos preservados com sal, nomeadamente conservas, processados de
carne, produtos de pastelaria e fast food que, nestas condições,
acabam por substituir total ou parcialmente algumas refeições,
aumentando as ingestões diárias de sal", lê-se no relatório.
Polémica nos EUA
Pedro Graça lembra que os dados disponíveis relativamente à ingestão de
sal são de 2012. "Não sabemos o que está a acontecer no último ano em
que, pelos dados que temos, as pessoas estão a mudar o seu consumo,
passando para alimentos mais baratos mas dentro das mesmas categorias."
Um exemplo: "Substituir um bife por um folhado de carne é consumir mais
sal e gordura."
É importante obter dados actualizados, até porque as médias podem ser
enganadoras e esconder problemas relacionados com as populações mais
vulneráveis, alerta Pedro Graça. Mas há uma boa notícia: uma candidatura
dos EEA Grants, programa de apoio lançado pela Noruega, deverá permitir
avançar, ainda este ano, com o Inquérito Alimentar Nacional para
avaliar a alimentação dos portugueses.
Portugal não é um caso único no consumo excessivo de sal, porque "na
maioria dos países da Região Europeia da OMS a ingestão de sal está
muito acima da quantidade sugerida", mas é, salienta o relatório, "um
dos que apresentam uma maior taxa de mortalidade provocada por acidente
vascular cerebral (AVC), sendo a hipertensão arterial um dos factores de
risco mais relevantes".
Curiosamente, a iniciativa para a redução do consumo de sal em Portugal
coincide com uma polémica nos Estados Unidos, onde um comité de peritos
defendeu que não se deve baixar excessivamente a ingestão de sal, e que
o valor de 1,5 gramas de sódio recomendado pela Associação Americana do
Coração é demasiado baixo e pode, inclusivamente, ser prejudicial para a
saúde. "Quando descemos abaixo dos 2,3 gramas de cloreto de sódio,
deixamos de ter dados em termos de benefícios e começam a surgir em
alguns subgrupos da população indícios de potenciais prejuízos", dizem
os peritos.
Manuel Carvalho Rodrigues, da SPH, diz que, embora não seja de excluir
que possa existir uma "curva J" na questão do consumo de sal (ou seja,
quando cai abaixo de um determinado nível deixa de ser benéfico para
passar a poder ser prejudicial, o que acontece noutros casos), não há
ainda dados suficientes. Por isso, a SPH aconselha a redução para seis
gramas de sal por dia e, sublinha Manuel Carvalho Rodrigues, "com os
níveis de consumo que temos em Portugal, ainda estamos muito longe de
termos de nos preocupar com uma descida excessiva".
Neste momento, uma parte substancial da população (42,2%) continua a
sofrer de hipertensão, segundo o estudo PHYSA - Portuguese Hypertension
and Salt Study, realizado pela SPH e apresentado este ano. Esta
percentagem não se alterou desde o estudo anterior, de 2003, embora se
tenham registado progressos significativos no tratamento e controlo:
42,6% têm a doença controlada, o que é um valor quatro vezes superior ao
de 2003.
* Talvez ajude: "a Hipertensão dá Hipotesão"!
.
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