HOJE NO
"PÚBLICO"
Gestores propostos pelo Governo para
a Parque Escolar foram chumbados
A Comissão de Recrutamento e Selecção para a Administração Pública
(CRESAP), criada em 2012 para avaliar gestores públicos e dirigentes do
Estado, chumbou dois dos gestores propostos inicialmente pelo Governo
para integrarem a administração da Parque Escolar.
Da lista de três nomes
enviados pelo executivo a 22 de Abril, a comissão presidida por João
Bilhim considerou adequado apenas o perfil do presidente. As propostas
partiram do ministro da Educação, Nuno Crato, e da secretária de Estado
do Tesouro, Maria Luís Albuquerque, revela o relatório da CRESAP.
De
acordo com o documento, os dois vogais propostos inicialmente pelo
Governo, Alfredo Vicente Pereira e Nuno Rolo, não reuniam as condições
exigidas para assumirem o cargo. O executivo acabou por ter em conta a
recomendação dos conselheiros, tendo indicado dois substitutos a 17 de
Maio, que receberam parecer favorável.
Trata-se de Montezuma
Dumangane e Filipe Alves da Silva, que terão como presidente Luís Flores
de Carvalho. A sua nomeação foi oficializada nesta quarta-feira em Diário da República, depois de a nova equipa de gestão ter sido aprovada em Conselho de Ministros, na semana passada.
O relatório da CRESAP explica que, no caso do chumbo a Vicente Pereira, que foi noticiado pelo Expresso na
semana passada, a decisão se ficou a dever à impossibilidade de obter
“evidências de uma capacidade de gestão em situações de crise”. A
comissão destaca o facto de o gestor ter sido vice-presidente da CP e da
Refer, com o pelouro financeiro, tendo-se detectado nestas duas
empresas a utilização de swaps como forma de financiamento”.
Percurso assente "na exploração de oportunidades"
Revelando
que na análise ao perfil de Vicente Pereira, que esteve na Refer em
simultâneo com a secretária de Estado do Tesouro (ex-directora
financeira da empresa), houve necessidade de realizar uma entrevista
pessoal e um teste de competências comportamentais, o documento refere
que “a personalidade em causa não deu provas de possuir traços pessoais e
profissionais, nem a postura necessária ao conselho de administração da
empresa em concreto, a Parque Escolar”.
Numa avaliação mais
detalhada às competências do gestor, a CRESAP destaca o facto de ter “um
percurso profissional, sobretudo a partir de 2003, muito assente na
exploração de oportunidades surgidas através da sua rede de contactos
pessoais, ao invés de uma decisão pessoal subordinada a uma linha de
desenvolvimento da carreira”.
O relatório diz mesmo que a análise
detectou uma “ausência na presença” do critério de “orientação para o
cidadão e serviço de interesse público” e que “não há evidência de uma
capacidade para gerir processos de complexidade elevada, lidando com
resistências e obtendo resultados concretos”.
O teste de
competências comportamentais revelou inclusivamente que Vicente Pereira
“é frequentemente intolerante com as pessoas menos dotadas” e “pode
mostrar-se brusco, crítico, dominador e susceptível de desencorajar ou
de causar ressentimento em pessoas com maiores motivações sociais”. O
relatório refere ainda que “apresenta normas gerais de conduta que não
concretizam em nada possíveis linhas orientadoras da gestão da Parque
Escolar”.
Vicente Pereira foi administrador da Refer, tendo
passada para a CP a meio do mandato, onde chegou a ser presidente
interino desde Janeiro deste ano, logo após a saída de José Benoliel.
Mas ficaria subitamente desempregado quando a nova equipa de Manuel
Queiró tomou posse, em Fevereiro deste ano.
Nessa altura, Vicente
Pereira pediu a Queiró se podia ser presidente da EMEF, uma participada
da CP, tendo obtido o acordo do novo presidente.
Só que a tutela
tinha reservada para as empresas afiliadas a figura de um
director-geral, recrutado dentro dos quadros do grupo CP, pelo que
Vicente Pereira acabaria por sair mesmo da CP.
Ausência de gestão de topo e autovalorização pessoal
Já
no caso de Nuno Rolo, antigo director de Recursos Humanos do Instituto
Superior Técnico e que também foi chamado para uma entrevista que
incluiu um teste de competências comportamentais, a CRESAP justifica o
chumbo com o facto de ser “um perfil caracterizado pelo desempenho de
cargos e de actividades de staff e com uma pequena experiência de quatro anos de gestão intermédia, claramente insuficiente para o exercício de cargos de topo”.
No
documento, lê-se que tem um percurso profissional “demasiado
fragmentado (…) não sendo claro a conclusão e os resultados obtidos em
cada um dos cargos exercidos, bem como a razão para essas mudanças”. A
CRESAP, que diz ter recebido a 29 de Abril uma segunda versão do
currículo do gestor com mais informação, destaca que “não há evidência
de um gosto pelo trabalho em equipa”, mas sim uma preferência pela
“autovalorização pessoal, nomeadamente através da prestações de
informações não totalmente precisas, nem claras”.
A comissão
detectou algumas incongruências no currículo do gestor, nomeadamente o
facto de ter referido que foi “assessor jurídico do conselho de gestão
do Instituto Superior Técnico”, quando se veio a verificar que era um
dos três juristas (supervisionados por um coordenador) do gabinete
jurídico da instituição.
No que diz respeito à aptidão para o
cargo de vogal da Parque Escolar, o relatório conclui que Nuno Rolo “não
aprofunda a componente de gestão, referindo mesmo a necessidade de
recorrer a advogados externos”.
* Afinal os amigalhaços propostos para o exercício dos tachos tinham um excelente curriculum: Vicente Pereira é um expert em oportunismos e Nuno Rolo um extraordinário moço de recados.
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