Não é esquisito?
1. Que o ano letivo ainda nem tenha acabado e já ouçamos outra vez falar de um novo programa de Matemática para o Ensino Básico?
2. Que se encontre como justificação para as mudanças que encerra
a ideia de que (afinal) a memória não é inimiga da compreensão!?
3. Que se comemore o Dia Mundial do Livro e o Porto fique sem a sua Feira do Livro?
4. Que tenha de suportar as corridas da Boavista economicamente rentáveis?
5.
Que a execução orçamental só se componha quando se consegue à cabeça
capturar a fundo o imposto sobre o rendimento das famílias?
6. Que
se remodelem dois secretários de Estado e se abra uma Comissão
Parlamentar de Inquérito alegadamente pela mesma razão sem que se
explique a alegada conexão?
7. Que por causa disso se instale uma dúvida sobre a idoneidade dos dois ex-governantes provavelmente injusta?
8.
Que se decida estender os horários de atendimento nos centros de Saúde
até às 22 h sem se perceber se tal se justifica em todo o lado?
9. Que, depois de aplicada a medida, tenhamos de a "revirar" porque haverá centros de Saúde «às moscas» com custos adicionais?
10.
Que ouçamos um banqueiro dizer que o primeiro dever de um banco é
proteger os depósitos e portanto nada de forçar a concessão de crédito
não vá alguma coisa correr mal?
11. Que pouco depois o Governo afiance que vai forçar a descida dos spreads praticados pela Banca?
12.
Que se almeje o "licenciamento na hora" e se invetive o comportamento
dos "obscuros" funcionários públicos que a toda a hora "metem os
processos na gaveta" sem se perceber que na grande maioria dos casos
estão apenas a cumprir prazos que estão consagrados na lei, essa sim da
responsabilidade de um qualquer Governo?
13. Que se insista (e
bem) no aumento das exportações, mas não se perceba quais os resultados
da "diplomacia económica" nessa outra vertente crucial que é a captação
de investimento estrangeiro?
14. Que se oscile entre o navegar à vista - provavelmente o mais acertado - e os sete cabalísticos anos para o crescimento?
15. Que nos dispersemos por 50 medidas que se vão tornando vagas logo a partir da 3.ª?
16.
Que Bragança seja o único distrito do país sem um Km de autoestradas e,
ainda assim, se tarde em terminar o que tarde se começou?
17. Que
não havendo dinheiro (deve ser essa a razão do atraso) tenha havido
ainda assim para indemnizar a Câmara Municipal de Lisboa pelos terrenos
do aeroporto? Paga-se sempre primeiro a Lisboa e a ordem, como sabemos,
nunca é arbitrária.
18. Que não haja nenhum conselheiro de Estado de Trás-os-Montes ou do Minho?
19. Que a maioria esmagadora seja mesmo e só de Lisboa?
20.
Que o programa de ajustamento da Madeira tenha consequências na
adequada sinalização e equipamento da sua rede de túneis pondo em causa a
segurança pública?
Vinte questões que simplesmente me
atravessaram os ouvidos nos últimos 10 dias e que me deixaram a pensar.
Na verdade, a perguntar: Não é esquisito?
Se procurar encontrarei
muitas explicações. Mas nunca há uma oportunidade como a primeira para
conseguir mobilizar. É preciso explicar, logo e melhor!
Ainda
assim e ao contrário uma decisão política e uma intervenção pública
resgataram-me deste sentimento de perplexidade. Nos últimos dois dias!
A
decisão política de convidar Castro Almeida para secretário de Estado
do Desenvolvimento Regional. Vir buscar alguém que conhece a fundo o
território e o peso da centralização política e administrativa do país
dá garantias de uma leitura assertiva da pasta e de uma utilização
consistente dos instrumentos da Política de Coesão de que dispõe.
A
intervenção de Félix Ribeiro no programa "Olhos nos olhos" da última
segunda-feira. A sua capacidade de apreciação estratégica dos problemas
levantados e a irredutibilidade em se deixar envolver na reação de curto
prazo reavivou a confiança que devemos manter no quadro técnico
superior da nossa Administração Pública (sistematicamente preterida por
outsourcings da moda). Sistematizou aliás esta atitude numa frase
cristalina: "Eu trabalhei 30 anos na Administração Pública. Não espere
que comente governos!".
IN "JORNAL DE NOTÍCIAS"
26/04/13
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