27/04/2013

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  HOJE NO
"PÚBLICO"

Outros efeitos da crise: drogas mais baratas, mais prostituição, mais VIH

Basta andar nas ruas do centro da capital grega para perceber que há um problema de droga. Mas o que não se vê é a explosão de novos seropositivos entre os utilizadores de drogas injectáveis
Drogas mais baratas, mais perigosas, que exigem mais injecções diárias. Mais prostituição, mais barata, cada vez mais sem preservativo. Faltam seringas, programas de substituição. Isto no meio de uma crise que corta o emprego, que deixa mais pessoas sem casa e baixa as perspectivas de futuro.
Nas ruas de Atenas vê-se parte do resultado: as pessoas que se injectam no centro histórico já não chocam quem lá vive, as prostitutas, jovens e adolescentes muito novas alinham-se nas pequenas ruelas. Mas os números disponíveis são ainda mais assustadores e mostram um aumento incrível das novas infecções por VIH entre os utilizadores de drogas injectáveis: os novos casos são hoje quase 35 vezes mais do que há dois anos.
 No ano passado houve 522 novas infecções entre quem injecta drogas. Até 2010, os números andavam entre dez e 15 novas infecções por ano, segundo os dados da Direcção-Geral da Saúde da Grécia.
Os utilizadores de drogas injectáveis foram, em números absolutos, os que mais novas infecções registaram, tendo pela primeira vez ultrapassado os homens que fazem sexo com homens (522 novas infecções entre o primeiro grupo, 304 no segundo), notou ao PÚBLICO, por email, Marianella Kloka, directora da organização não governamental Positive Voice, que tem programas de redução de risco.
O sexo tem um papel agravante. Há mais pessoas a prostituírem-se. São mais diversas: há agora mais homens e rapazes, e quer homens quer mulheres são cada vez mais novos. Pedem cada vez menos dinheiro e aceitam mais frequentemente relações sexuais sem preservativo.
Maria, nome fictício, tem 27 anos e é descrita como uma "trabalhadora sexual ocasional" numa reportagem do site de notícias Greek Reporter. É viciada em "sisa", uma das novas drogas que nos últimos dois anos ganhou terreno no mercado grego. Não se sabe exactamente o que contém - anfetaminas com químicos não identificados - mas custa apenas dois ou três euros por dose.
Maria conta que a maioria dos seus clientes são homens casados de meia-idade. Aparecem de manhã, pagam dez a 15 euros, não querem usar preservativo. Maria descobriu há pouco tempo que é seropositiva. "Recuso sexo não protegido, mas eles tornam-se insistentes e é difícil dizer não."

As políticas de redução de riscos, queixa-se Marianella Kolka, eram já insuficientes antes da crise. Com os cortes, ninguém prevê o que poderá acontecer.

Redes desintegradas
Charalampos Poulopoulos, do Centro de Terapia para Pessoas Dependentes (KETHEA), traça um quadro negro: "Há um sentimento de desespero entre os utilizadores de drogas. Todas as redes de segurança se estão a desintegrar, e os utilizadores de drogas perderam a motivação para mudar as suas vidas."
Os cortes drásticos afectam ONG e organismos públicos. O KETHEA tinha um orçamento de 24 milhões, agora tem de 16 milhões. O organismo do Estado para a prevenção da toxicodependência (Okana), responsável também pela distribuição de seringas, teve cortes de 40%.
Apesar de notar que nos últimos três anos (2010-2012) houve progressos na disponibilidade de terapias de substituição, Marianella Kolka diz que ainda há muito para fazer. "O período de espera é agora de 40 meses e cobre apenas 38% dos que querem entrar nestes programas."
Pior é que, com os cortes, mesmo o que foi entretanto conseguido está ameaçado. Trabalhadores em protesto têm paralisado o organismo governamental. "As ONG têm continuado a distribuição de seringas mas não chega", sublinha Kolka. Em 2012 foram distribuídas 440 mil seringas. A OMS recomenda 200 seringas por ano por utilizador, e dado que se estima que haja mais de dez mil utilizadores, já este número era insuficiente.
E com as novas drogas (a "sisa", que pode ser fumada ou injectada, ou misturas de heroína e sedativos que custam entre cinco e sete euros) são precisas mais doses diárias, e mais seringas.
Antes, as farmácias davam agulhas de graça ou por uma quantia irrisória, conta Nikos, nome fictício, 35 anos, ao Greek Reporter. "Agora compro-as nas ruas ou uso-as depois de as lavar com água." Dimitris, outro grego de nome fictício, 50 anos, conta que ganha dinheiro para a heroína vendendo seringas. "Às vezes por um euro, outras por 30 ou 40 cêntimos." Não diz de onde vêm estas seringas.

* O que se passa na Grécia pode acontecer brevemente em Portugal, não estamos assim tão longe da crise grega, andamos a disfarçar.

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