HOJE NO
"PÚBLICO"
Directores dizem que é mentira
que só tenham pedido 618 professores
O dirigente da Associação Nacional de Directores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP) classificou este sábado como “uma redonda mentira” a informação de que o número de vagas colocadas a concurso “corresponde às necessidades dos directores”.
O Ministério pediu aos dirigentes escolares que fizessem o
levantamento das necessidades mas, aparentemente, não tiveram em conta
as respostas.
Em causa está a portaria, publicada na sexta-feira
e que segundo o MEC teria sido desenhada com base nas informações que
os directores das cerca de 900 escolas ou agrupamentos lhe fizeram
chegar. Segundo a informação divulgada, teriam sido apontadas 12.003
vagas negativas, ou seja, lugares do quadro que actualmente estão
ocupados mas que não serão substituídos no caso de estes professores se
reformarem ou forem destacados para outras funções. Quanto às chamadas
vagas positivas, aquelas que as escolas dizem estar em falta, seriam
apenas 618 (quando há quatro anos foram 20.896.) para o conjunto dos
professores de carreira e de contratados.
Adelino Calado diz não
dispor de dados que lhe permitam confirmar se as mais de 12 mil vagas
negativas correspondem às indicações dadas pelos directores face
situações resultantes do encerramento de escolas do 1.º ciclo, do
aumento do número de alunos por turma, da reforma curricular ou dos
mega-agrupamentos. Mas garante que lhe bastou ligar “para vinte e tal
directores”, seus colegas, para verificar que “em absolutamente nenhum
caso o pedido de lugares no quadro foi atendido”.
“Um exemplo:
para Matemática pedi cinco vagas e deram-me duas; para Português pedi
cinco e deram-me uma”, indicou o director do Agrupamento de Escolas de
Carcavelos que assegurou que, por questões legais, “nunca um professore
arriscaria pedir mais vagas do que as estritamente necessárias”. Tal
como Adelino Calado, José Eduardo Lemos, da Associação Nacional de
Dirigentes Escolares (ANDE) aponta o que se passa na sua escola, na
Póvoa de Varzim: “Contava com três lugares no quadro para Filosofia e
não abriram sequer uma vaga. Isto não elimina as necessidades – elas
continuam a existir”, disse.
Não foram apenas os directores a afirmar que “algo de estranho” se passa com este concurso. O autor do blog Dear Lindo,
Arlindo Ferreira, juntou este sábado vários gráficos com tratamento de
dados que indicam que o número e a localização de vagas agora abertas
coincidem “quase a 100%, no que respeita aos grupos de recrutamento e às
zonas, com as que abriram para concurso extraordinário em Janeiro, ou
seja, antes de os directores das escolas fazerem a tal manifestação de
necessidades. “Aparentemente, a decisão estava tomada antes de a
pergunta ser feita, ou seja, a decisão foi política”, comentou Arlindo
Ferreira, em declarações ao PÚBLICO.
O MEC respondeu ao pedido de
esclarecimentos do PÚBLICO, agora há pouco: “O processo de ajustamento
dos quadros de docentes das escolas com as suas reais necessidades tem
em conta, entre outros aspectos, a publicação das vagas negativas por
grupo de recrutamento indicadas pelas escolas e a definição das vagas
positivas consideradas adequadas, evitando docentes sem componente
lectiva”. Admite, segundo parece, que apenas teve em conta a opinião dos
directores para criar as vagas negativas. Para criar as vagas positivas
ter-se-á baseado noutros critérios – quais, não revela.
* Como é que um professor de matemática, inequivocamente adepto do rigor, ocupa o lugar de ministro e admite que se teçam as maiores aldrabices?
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