O Rio é fino como um alho
Ó! meu Porto onde a eterna mocidade diz à gente o que é ser nobre e
leal, teu pendão leva o escudo da cidade que na História deu o nome a
Portugal... Confesso que sinto um arrepio na espinha quando, a sublinhar
a entrada em campo da nossa equipa, a instalação sonora passa o hino do
F.C. Porto, cantado pela voz límpida de Maria Amélia Canossa e tocado
pela London Philharmonic Orchestra.
Não é muito racional, mas penso que todos - portistas ou
salgueiristas, benfiquistas ou sportinguistas - sabemos que o futebol
não é o território da razão, mas da emoção e da paixão.
Maria
Amélia Canossa faz parte de um geração de cançonetistas, como Tony de
Matos e Simone de Oliveira, que marcaram o panorama musical do Portugal
dos anos 60. Quando recordo Tony de Matos, vêm-me à memória "Só nós
dois" (...é que sabemos quando nos damos bem). Falam-me de Simone de
Oliveira e desato logo a trautear "Desfolhada" (eira de milho, luar de
agosto, quem faz um filho, fá-lo por gosto) com a minha voz desafinada.
O
hino do Porto é a minha reação pavloviana ao nome da Maria Amélia
Canossa, que Rui Rio planeia distinguir quando no 25 de abril distribuir
pela última vez as medalhas da cidade.
Uma escolha algo estranha
por vir de um político que a primeira coisa que fez após ser eleito
presidente da Câmara foi levar à cena um western de 4.ª categoria, com o
Porto a fazer de cidade selvagem do Faroeste, reservando para ele o
papel do xerife que enfrenta um bando de malfeitores, onde se conluiava
perigosos agentes culturais, empreiteiros e o F.C. Porto.
O Rui é
fino como um alho. Esta estratégia resultou em plano para um político
como ele, para quem o Porto não era o ponto de chegada, mas o trampolim
para altos voos em Lisboa. Ao declarar guerra a Pinto da Costa
conquistou a simpatia dos alegados seis milhões de antiportistas.
Durante
uma dúzia de anos, Rio cometeu a proeza de ser o único autarca da
Europa a recusar a varanda dos Paços do Concelho ao clube que leva mais
alto o nome da cidade - os campeões europeus de 2004, vencedores da Taça
UEFA de 2003 e da Liga Europa de 2011, e campeões nacionais em 2003,
2004, 2006, 2007, 2008, 2009, 2011 e 2012.
No ano passado, Rui
surpreendeu ao dar a medalha de mérito municipal, grau cobre, ao Manuel
do Laço, sócio símbolo do seu Boavista. Este ano vai dar a medalha de
mérito municipal, grau prata, à cantora do hino do Porto. Tem lógica,
apesar de ter pena que ele se tenha esquecido do Lourenço trompetista.
Já
agora, que estamos a falar de distinções, desconfio que o próximo
presidente da (e não de? ) Câmara vai entregar ao F.C. Porto as chaves
da cidade, depositando-as nas mãos do seu líder histórico, Pinto da
Costa. Pois, como canta Maria Amélia Canossa, "quando alguém se atrever a
sufocar o grito audaz da tua ardente voz, ó! Porto então verás vibrar a
multidão, num grito só de todos nós".
25/02/13
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