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A ideia de dinheiro virtual
não é nova. É assim que funcionam muitos sistemas que permitem comprar
créditos com dinheiro real e depois usar esses créditos para comprar
bens ou serviços. Há jogos no Facebook que permitem comprar dinheiro
virtual, por exemplo. A inovação das bitcoins, que foram lançadas em 2009, é que não há uma entidade central responsável pela moeda – nem sequer uma empresa.
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HOJE NO
"PÚBLICO"
O valor de uma moeda virtual disparou, talvez com ajuda da crise
As bitcoins não têm uma entidade emissora e funcionam através de um sistema automático assente numa rede de computadores a que qualquer pessoa se pode juntar. A procura tem subido nas últimas semanas.
O valor de cada bitcoin ronda actualmente os 90 dólares, ou 70 euros.
Há um ano, cada uma valia pouco menos de cinco dólares. Nesta
quinta-feira, pela primeira vez, o valor do total de todas estas moedas
virtuais em circulação ultrapassou os mil milhões de dólares.
O sistema assenta em redes peer-to-peer
(em que os computadores estão ligados directamente uns aos outros, de
forma descentralizada). O valor do dinheiro (ou seja, o preço por que
pode ser comprado com divisas convencionais, como o euro e o dólar) é
guardado em ficheiros que existem na própria rede, tal como acontece com
os proprietários dos fundos e o historial de transacções. As emissões
de moeda são feitas periodicamente, de forma automática e
pré-programada, sem intervenção humana.
A moeda já foi usada em mercados online de
drogas e armas, mas também há serviços legais que aceitam este tipo de
pagamento. O reputado serviço de alojamento de blogues Wordpress é um
deles. No mês passado, o site Reedit, popular sobretudo nos EUA e onde os utilizadores agregam e discutem conteúdos que encontram online,
passou a aceitar bitcoins para as suas funcionalidades pagas. Nos
Estados Unidos, pelo menos, há um ou outro café que aceitam bitcoins e,
no Canadá, houve quem pusesse uma casa à venda por 405 mil dólares canadianos ou, em alternativa, 5750 bitcoins.
As bitcoins podem ser compradas e vendidas em sites criados
para o efeito, cujo funcionamento não difere muito dos sistemas de
investimento nas bolsas. O utilizador coloca ordens de compra ou de
venda, definindo o preço porque está disposto a vender ou comprar, e
espera que o sistema execute a ordem.
Há sempre um risco
A
comparação entre o valor actual e o valor de há um ano dá pistas sobre a
valorização das bitcoins. Mas não conta toda a história: os valores
tendem a oscilar muito e comprar Bitcoins pode ser um investimento
arriscado. Além disso, já houve tentativas de fraudes informáticas para obter bitcoins.
Nos
últimos dias, as bitcoins suscitaram uma avalanche de atenção
mediática, com vários órgãos de comunicação a notarem o valor elevado
que a divisa atingiu. Alguns argumentam que a crise da zona euro e a
perda de confiança no sistema bancário, particularmente após o anúncio
da taxa sobre os depósitos em Chipre, estão a atrair pessoas para a
moeda virtual.
Já em Abril do ano passado, a agência Reuters tinha entrevistado
um comerciante grego que dizia não recorrer a bancos e que, em vez
disso, usava bitcoins. O fenómeno tende a gerar um ciclo: quanto mais os
media falam das bitcoins, mais interesse suscitam na moeda e
mais potenciais utilizadores surgem, o que acaba por despertar a atenção
de mais órgãos de comunicação e de mais serviços disponíveis para
aceitar esta forma de pagamento.
Em 2011, num artigo sobre o assunto, o prémio Nobel da Economia Paul Krugman argumentou
que o sistema das bitcoins, bem como a sua valorização, fomentavam a
angariação destas moedas e não promoviam o gasto. Se os preços
estivessem a ser medidos em bitcoins, notou, a economia estaria em
deflação.
Ganhar moedas
A distribuição de
novas moedas pela rede é um processo muito complexo. O sistema “gera”
moedas a cada dez minutos, mas estas têm de ser “descobertas” e, em
teoria, qualquer pessoa se pode ligar à rede e tentar fazê-lo.
Posto
de forma simplificada, o processo de “descoberta” implica ter um
software específico a solucionar uma espécie de problemas matemáticos
complicados. Ao primeiro computador a encontrar a solução, é atribuída
uma recompensa em bitcoins. A dificuldade dos problemas é ajustada em
função da capacidade da rede para “descobrir” moedas, de forma a
assegurar que a introdução de moedas no sistema se vai mantendo
constante.
Este modo de funcionamento faz com que seja preciso
investir recursos para obter moedas e que quem invista mais recursos
seja quem as consegue obter com mais frequência. Resolver os problemas
implica o uso de um poder de processamento que não está disponível nos
computadores normalmente usados no quotidiano. Significa ainda um gasto
considerável de electricidade e uma determinada quantidade de tempo, que
depende da capacidade técnica.
Os vários “mineiros” de bitcoins
(é o termo que designa os nós da rede que tentam resolver os problemas
matemáticos) investem assim recursos (tempo, processamento,
electricidade) na competição por um bem escasso. O funcionamento é mais
semelhante ao das minas de metais preciosos do que ao de emissão de
moeda por um banco central.
O sistema está desenhado para que o
valor das recompensas atribuídas diminua para metade a cada quatro anos.
Além disso, a “emissão” parará quando estiverem em circulação 21
milhões de bitcoins, o que, se a rede se mantiver em funcionamento,
acontecerá em 2140.
O processo foi inventado por alguém sob o pseudónimo Satoshi Nakamoto. Em Novembro de 2008, Nakamoto publicou num fórum online um documento
com a estrutura típica de um artigo científico em que descrevia o
processo. O sistema começou a funcionar em Janeiro do ano seguinte.
Algures em 2010, Nakamoto afastou-se do processo e deixou a criação
seguir o seu rumo.
* Um imbróglio quando o euro e o dolar ficarem para trás.
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