Doença Crónica
Álvaro Santos Pereira padece de uma grave doença crónica: uma total inabilidade política, coroada de ‘gafes' e aliada a uma incapacidade de perceber que os grandes números comandam os pequenos.
Numa tentativa de terapia, Passos Coelho foi-lhe amputando as competências, delegando-as noutros ministros e até mesmo em consultores externos. Poucos meses depois de ter tomado posse, o suposto superministro já tinha perdido batalhas políticas importantes, nomeadamente no campo do comércio externo para Paulo Portas e do QREN para Vítor Gaspar.
António Borges ficou-lhe com o ‘filet mignon': as privatizações, a renegociação das PPP e a reestruturação do Sector Empresarial do Estado, incluindo o sector financeiro.
Aliviado do fardo de um superministério na sua plenitude, Álvaro Santos Pereira mostrou sinais de melhoras. Fez algum progresso na concertação social, propôs a redução do IRC e até conseguiu reduzir parcialmente as rendas excessivas da energia. Abandonou o voluntarismo do pastel de nata e abraçou a reindustrialização.
O problema é que apesar da boa vontade, os números não lhe dão tréguas.
O coiso, perdão, o desemprego, apresenta uma trajectória de escalada e é estimado em 16% para 2013. O empreendedorismo, a competitividade e a inovação não conseguem implantar-se numa sociedade em que 62% da população activa tem o nível básico de escolaridade ou inferior, leia-se nenhum.
A internacionalização da economia como "desígnio nacional" depende muito de países como a Espanha, cujo PIB contraiu 1,8% em 2012 e que deverá registar uma quebra de 1,5% em 2013, de acordo com o FMI.
A doença crónica de Álvaro Santos Pereira não o deixa ver este panorama e por isso não lhe permite discernir que as suas propostas estão desajustadas da realidade do País.
Passos Coelho opta agora pelo transplante de órgãos vitais. Mas enquanto o ministro não perceber que, perdidas algumas batalhas, a aliança a celebrar é com as Finanças, não há remodelação que lhe valha.
IN "DIÁRIO ECONÓMICO"
04/02/13
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