ESTA SEMANA NA
"VISÃO"
Complicações de uma doença normal
O caso de Mário Soares vem recordar que uma gripe pode ser mais do que febre e nariz a pingar.
Na última semana, não houve bloco noticioso que não incluísse o boletim clínico de Mário Soares. As primeiras notícias eram vagas e davam conta de uma "indisposição" resultante de uma gripe. As últimas já se referiam a uma "infeção no cérebro", consequência da mesma gripe. Além da preocupação pela saúde do ex-Presidente da República, de 88 anos, a notícia veio levantar uma questão: mas, afinal, o Influenza é assim tão mauzinho?
O grande senão do vírus da gripe são precisamente as
complicações que podem surgir. Na maioria das vezes, a infeção
resolve-se em três a cinco dias, com paracetamol para a febre e as dores
no corpo. A sensação de cansaço ou a tosse podem prolongar-se por duas
ou três semanas até a maleita não ser mais do que a recordação de uns
dias passados entre a cama e o sofá.
Em alguns casos, na população mais idosa, em crianças muito
pequenas, ou nas pessoas com doenças crónicas como a diabetes,
insuficiência renal ou cardíaca, a gripe pode ser um caso muito sério.
"As complicações mais comuns, e que levam ao internamento, são a
pneumonia ou a descompensação de patologias crónicas", nota Filipe
Froes, 51 anos, pneumologista e consultor da Direção-Geral da Saúde. "Na
fase final da infeção viral", continua o médico, "pode haver diminuição
das defesas, o que favorece o aparecimento de outras infeções."
Medo da vacina
A encefalite (caracterizada por cefaleias, alteração do estado de
consciência, desorientação, prostração) é, apesar de tudo, uma
complicação mais rara, que escolhe idosos ou pessoas com o sistema
imunitário muito debilitado. De acordo com um estudo sueco, a incidência
de encefalite associada ao Influenza é de 0,21 por milhão de habitantes
e de 1,5 por mil pacientes internados com gripe.
Mário Soares teve alta na segunda-feira, 21, mas o susto não terá
sido suficiente para convencer os portugueses a tomarem a mais eficaz
medida de contenção da gripe: a vacina. Mesmo gratuita para os maiores
de 65 anos, a cobertura vacinal não chega aos 50%, nesta população de
risco.
Subsistirão alguns receios, infundados, quanto à segurança da
vacina. E também há a ideia generalizada de que, depois de novembro, já
não vale a pena tomá-la. O que Francisco George, diretor-geral da Saúde,
veio desmentir, apelando à vacinação ainda durante o mês de janeiro,
uma vez que o pico da epidemia só é esperado para meados de fevereiro e a
vacina tarda duas semanas a fazer efeito.
Talvez fosse igualmente importante o Ministério da Saúde mostrar
que leva a gripe a sério. O que não parece ser o caso. No final de
dezembro, foi encerrada, no Hospital Pulido Valente, em Lisboa, a mais
bem preparada unidade de cuidados intensivos, exclusivamente dedicada à
doença.
* Ainda se deve e pode vacinar
.
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