Último Natal
Não ouvimos porque Passos Coelho partilha com Merkel a narrativa da crise. A mensagem de Natal torna clara a ausência de vontade para defender o País.
1. Chega a ser pungente observar como Passos
Coelho gere, entre outras áreas da governação, a comunicação política.
Estamos perante um caso de estudo de como um primeiro-ministro (PM) não
deve comunicar com o País em crise profunda. Passos Coelho ignora regras
elementares: a de que deve proteger-se, evitando exposição excessiva
num contexto de descontentamento; a de que deve ter uma linha discursiva
coerente, evitando pedir a união de todos e, no momento seguinte,
colocar, de forma primária, jovens contra idosos; ou a de que há limites
para a desonestidade política e intelectual, como na discussão sobre o
Estado social.
2. Mas nem tudo é incompetência. Quando um PM escreve (no Facebook)
que os cidadãos devem olhar com "orgulho" para os sacrifícios expressa
uma visão moral. A mensagem não é que os sacrifícios devem ser reduzidos
ou as pessoas deles protegidos - nem que eles são uma inevitabilidade
do ajustamento. Não: os sacrifícios são vistos como objeto de orgulho.
Que orgulho devem sentir os desempregados, os que viram o seu rendimento
brutalmente reduzido, ou os que perderam a casa por incumprimento do
empréstimo? O orgulho de, no fim da purga moral, vencerem os seus
vícios? Fica claro que, se vivemos uma "guerra" (Passos Coelho dixit),
os inimigos somos nós próprios.
3. É por isso que não ouvimos na mensagem de Natal que o PM tudo
fará, quando 2013 se revelar pior do que as previsões, para proteger as
famílias de medidas que agravem a situação económica. Não ouvimos porque
Passos Coelho partilha com Merkel a narrativa da crise. A mensagem de
Natal torna clara a ausência de vontade para defender o País: sem
vontade não há exercício de poder negocial, e sem poder negocial o que
sobra a Passos Coelho é um discurso ‘new age' de auto-ajuda: "uma das
condições para sermos vitoriosos (...) é acreditarmos em nós próprios",
ao melhor estilo de um ‘best-seller' de hipermercado.
4. A metáfora é triste e perigosa, mas se isto é uma guerra, o mínimo
que pedíamos era que o general fosse competente, não partilhasse a
narrativa do conflito com quem nos impõe condições, e não estivesse
disposto a colaborar no sacrifício do seu povo. Por isso, é imperioso
que esta seja a última mensagem de Natal do PM Pedro Passos Coelho.
Sociólogo
IN "DIÁRIO ECONÓMICO"
28/12/12
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