O silêncio do "Grande Cassandra"
O "Grande Cassandra" tem andado mais recatado.
Há um ano previa que a Grécia – seguida de Portugal, que dizia então ser já um "caso perdido" – sairia do euro no prazo de 12 a 18 meses, forçada ou idealmente pelo próprio pé.
Em Maio, depois das primeiras eleições gregas e de ter errado na
previsão de que o Syriza sairia vencedor, reafirmava que esse desfecho
era uma mera questão de tempo – e de pouco tempo. Em Julho, após as
segundas eleições em Atenas e segunda previsão eleitoral furada, ajustou
ele o seu tempo: algures em 2013 a coisa vai acabar por acontecer, no
meio de uma "tempestade perfeita" que abalará toda a economia mundial e
ditará o princípio do fim do euro. Há uma semana, mudou de registo.
Afinal talvez seja possível manter a Grécia no euro, mas "é preciso uma
união de transferências, porque vai levar dez a 20 anos para concluir a
austeridade e as reformas para estabilizar a Grécia, pelo que vai ser
necessário dar mais dinheiro e ser paciente".
Nouriel Roubini até poderá um dia acertar no resultado. Mas o
euro, com todos os seus 17 países a bordo, é o grande sobrevivente de
2012. Não ganhou o futuro, mas ganhou aos profetas que o condenavam a
ser só passado.
Infelizmente a crise da Zona Euro não ficou para
trás, como disse acreditar, com exagerado voluntarismo, François
Hollande. Mas não deixa de ter significado que seja essa a pergunta cada
vez mais recorrente e subjacente, em vez do "quando e como" nos será
lido o último capítulo da morte do euro e da Europa.
Haverá
espaço para respirar. Só para respirar. "As uniões económicas e
monetárias podem existir com diferentes graus de integração (…) mas em
todas elas existem importantes mecanismos automáticos que compensam as
flutuações na actividade económica. (…) A escala do desemprego exige
que, ao nível comunitário, se encontrem formas de providenciar
assistência neste domínio. (…) Um sistema comunitário de subsídios de
desemprego pode ser um instrumento eficaz. Terá efeitos benéficos sobre a
economia e a sociedade como um todo (…) e será um passo decisivo para
provar às opiniões públicas que a solidariedade comunitária é real".
Tudo isto consta de um relatório encomendado pela Comissão Europeia a um
grupo de economistas no longínquo ano de 1974, quando ainda não havia
euro (nem ECU), a Comunidade resumia-se a nove países e a Europa tremia
com os choques petrolíferos, que incendiaram mais a inflação do que o
desemprego (pelo menos, o que era estatisticamente capturado: os
economistas levavam então as mãos à cabeça com 8% na recém-chegada
Irlanda...)
Quatro décadas depois, o mesmo problema, com uma
dimensão (no mínimo, estatística) imensamente agravada, está aqui – não
em perspectiva, mas instalado no nosso tempo. Já não se trata de
prevenir o que pode ser pior, mas de resolver o que deixou de ser
tolerável e ameaça destruir o que se fez em tantas décadas. Com sorte,
hoje, na cimeira em Bruxelas, serão dados os primeiros passos para
resolver o que já era urgente há 40 anos.
* Redactora principal
IN "JORNAL DE NEGÓCIOS"
12/12/12
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