14/12/2012

EVA GASPAR




O silêncio do "Grande Cassandra"

 O "Grande Cassandra" tem andado mais recatado. 
Há um ano previa que a Grécia – seguida de Portugal, que dizia então ser já um "caso perdido" – sairia do euro no prazo de 12 a 18 meses, forçada ou idealmente pelo próprio pé. 

Em Maio, depois das primeiras eleições gregas e de ter errado na previsão de que o Syriza sairia vencedor, reafirmava que esse desfecho era uma mera questão de tempo – e de pouco tempo. Em Julho, após as segundas eleições em Atenas e segunda previsão eleitoral furada, ajustou ele o seu tempo: algures em 2013 a coisa vai acabar por acontecer, no meio de uma "tempestade perfeita" que abalará toda a economia mundial e ditará o princípio do fim do euro. Há uma semana, mudou de registo. Afinal talvez seja possível manter a Grécia no euro, mas "é preciso uma união de transferências, porque vai levar dez a 20 anos para concluir a austeridade e as reformas para estabilizar a Grécia, pelo que vai ser necessário dar mais dinheiro e ser paciente".

Nouriel Roubini até poderá um dia acertar no resultado. Mas o euro, com todos os seus 17 países a bordo, é o grande sobrevivente de 2012. Não ganhou o futuro, mas ganhou aos profetas que o condenavam a ser só passado.

Infelizmente a crise da Zona Euro não ficou para trás, como disse acreditar, com exagerado voluntarismo, François Hollande. Mas não deixa de ter significado que seja essa a pergunta cada vez mais recorrente e subjacente, em vez do "quando e como" nos será lido o último capítulo da morte do euro e da Europa.

Haverá espaço para respirar. Só para respirar. "As uniões económicas e monetárias podem existir com diferentes graus de integração (…) mas em todas elas existem importantes mecanismos automáticos que compensam as flutuações na actividade económica. (…) A escala do desemprego exige que, ao nível comunitário, se encontrem formas de providenciar assistência neste domínio. (…) Um sistema comunitário de subsídios de desemprego pode ser um instrumento eficaz. Terá efeitos benéficos sobre a economia e a sociedade como um todo (…) e será um passo decisivo para provar às opiniões públicas que a solidariedade comunitária é real". Tudo isto consta de um relatório encomendado pela Comissão Europeia a um grupo de economistas no longínquo ano de 1974, quando ainda não havia euro (nem ECU), a Comunidade resumia-se a nove países e a Europa tremia com os choques petrolíferos, que incendiaram mais a inflação do que o desemprego (pelo menos, o que era estatisticamente capturado: os economistas levavam então as mãos à cabeça com 8% na recém-chegada Irlanda...)

Quatro décadas depois, o mesmo problema, com uma dimensão (no mínimo, estatística) imensamente agravada, está aqui – não em perspectiva, mas instalado no nosso tempo. Já não se trata de prevenir o que pode ser pior, mas de resolver o que deixou de ser tolerável e ameaça destruir o que se fez em tantas décadas. Com sorte, hoje, na cimeira em Bruxelas, serão dados os primeiros passos para resolver o que já era urgente há 40 anos.


* Redactora principal


IN "JORNAL DE NEGÓCIOS"
12/12/12

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