HOJE NO
"PÚBLICO"
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Conselho Nacional de Ética arrasa
bancos privados do cordão umbilical
Bancos privados fazem promessas “irrazoáveis” e campanhas “agressivas” numa fase vulnerável da vida das pessoas, conclui o conselho no seu mais recente parecer.
A conservação do sangue e tecido do cordão umbilical e placenta em
bancos privados “assenta num modelo comercial”, por oposição aos
“princípios do altruísmo” subjacentes aos bancos públicos. Têm também
“critérios de selecção e qualidade menos estritos” e fazem “promessas de
aplicações irrazoáveis”. As críticas estão num parecer conjunto do
Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida (CNECV) e do Comité
de Bioética de Espanha, a que o PÚBLICO teve acesso.
Mais de 120 mil portugueses recorreram já aos bancos
de criopreservação de células do cordão umbilical existentes em
Portugal, sendo que a grande maioria das amostras foram deixadas em
bancos privados. Ao contrário do único banco público (o Lusocord) a
funcionar no país, em que as amostras são gratuitas, nos bancos privados
paga-se pela preservação do sangue e tecido do cordão por preços que
rondam os 1500 euros.
O parecer do CNECV não questiona a
“utilidade clínica” da conservação das células estaminais presentes no
sangue do cordão umbilical em algumas situações, como os transplantes de
células da medula óssea ou nalgumas doenças hematológicas. Porém, no
caso da promissora aplicação a outras doenças — caso das degenerativas
como Alzheimer ou Parkinson, por exemplo —, os peritos nacionais e
espanhóis defendem que “a sua validade científica e utilidade potencial
não estão ainda estabelecidas, e o seu uso permanece experimental”. As
reservas sobre os bancos privados não são inéditas e o próprio parecer
refere que este tipo de “negócio” é proibido em países como França e
Itália.
No plano da argumentação, os especialistas — que ouviram
representantes de duas empresas privadas e do Lusocord — estabelecem as
diferenças entre os dois modelos. E estas são óbvias. “A conservação em
bancos públicos assenta nos princípios do altruísmo, da gratuitidade, da
confidencialidade e da máxima qualidade”, lê-se no parecer agora
divulgado. Do outro lado, temos um negócio “assente num modelo
comercial, com critérios de selecção e qualidade menos estritos,
promessas de aplicações irrazoáveis (tratamento de doenças comuns da
vida adulta, quando a conservação se faz a 20-25 anos), estratégias de marketing agressivas e pouco transparentes, dirigidas a um público numa fase particularmente vulnerável da sua vida”.
Em defesa do modelo público
Sobre as tais
promessas “irrazoáveis”, o geneticista Jorge Sequeiros, um dos relatores
do parecer, é claro: “Prometem o que não podem cumprir”. “Alguns chegam
mesmo a usar o termo seguro de vida”, critica o especialista. Na lista
das promessas estão, por exemplo, hipotéticas respostas para doenças
(diabetes comum ou degenerativas) que só surgem na idade adulta, isto
quando o período de conservação das amostras é de 20 a 25 anos.
Por
outro lado, um dos problemas mais graves está relacionado com os
“pacotes” que mais recentemente começaram a ser vendidos por estas
empresas e que incluem uma “bateria” de testes genéticos aos
recém-nascidos para obter dados sobre eventuais susceptibilidades (desde
incompatibilidades alimentares a doenças hereditárias).
“São
testes que, nalguns casos, têm um valor preditivo muito reduzido, para
não dizer nulo”, alerta Jorge Sequeiros. Há uma empresa que promete, por
exemplo, um rastreio a nada menos que 101 doenças, e algumas delas são
detectadas com o “teste do pezinho” que é feito a todos os bebés.
Além
disso, segundo Jorge Sequeiros, há ainda outra preocupação: os dados
dos bancos públicos mostram que apenas entre 20 a 40% das amostras
colhidas têm “qualidade” para ser utilizadas, isto apesar de os bancos
privados receberem por todas as amostras colhidas.
Confrontados
com esta realidade, os especialistas apresentam 16 recomendações em
defesa dos bancos públicos de sangue e tecido do cordão umbilical — que,
reconhecem, devem ser reforçados e melhorados. De uma forma clara e
inequívoca, o CNECV recomenda que se deve “promover a doação altruísta,
gratuita, de sangue de cordão, do próprio cordão e placenta, para uso em
transplantes alogénicos [de dador imunologicamente compatível]”.
Outra
das recomendações preconiza que a colheita de sangue e tecido do cordão
umbilical seja feita como rotina em todas as grávidas “para um banco
público, sempre com a possibilidade de recusa por parte da mulher” e
mediante consentimento informado.
O parecer nota ainda que se deve
verificar em todos os casos se “as reivindicações de aplicações
terapêuticas publicitadas têm validade e utilidade clínica comprovada” e
que toda a actividade dos bancos, independentemente da sua natureza
pública ou privada, deve ser regulada e fiscalizada.
* Pouca ética no que respeita ao "tratamento " da boa fé do cidadão.
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