Perigosa realidade
1- Uma coligação que cria uma "comissão coordenadora", seja lá o que isso for, reconhece a evidência: o Governo está preso a um equilíbrio precário e a crise política no imediato só é travada pela necessidade absoluta de o País ter um Orçamento do Estado para apresentar aos credores internacionais e evitar males maiores. Não fora isso e a forma violenta como Paulo Portas respondeu às medidas anunciadas por Pedro Passos Coelho teria dado eleições a curto prazo.
E agora?
Agora segue-se a política naquilo que ela tem de melhor e de pior.
No melhor, Passos e Portas vão ter de dar ao País a estabilidade possível. Não podem ter estados de alma, pensar em demissões. No atual momento, quem detonasse a bomba seria penalizado em termos eleitorais de forma violenta, muito para além das sondagens conhecidas. Por isso, independentemente da posição do PS, a coligação vai ter de acertar um orçamento e seguir em frente sabendo que já não tem a compreensão da sociedade portuguesa para a austeridade. Isso foi deitado pela borda fora com a intenção peregrina de tirar dinheiro aos trabalhadores para financiar as dificuldades dos patrões.
No pior, todos entendemos que a desconfiança e a hipocrisia vão marcar as relações entre PSD e PP, entre o primeiro-ministro e o ministro dos Negócios Estrangeiros. Algures num momento futuro, mais ou menos próximo das eleições, ou Portas escreve o capítulo final da peça que agora encenou ou Passos Coelho devolverá com juros a afronta que desta vez tem de calar.
Não há comissão coordenadora (da coligação) que possa ultrapassar este equilíbrio instável em que o Governo, muito fragilizado na rua, continuará a viver.
2- Naturalmente, Passos Coelho vai ter de ceder na TSU. O problema está em que talvez já não baste ceder.
Seja qual for a forma encontrada para tornear a insensatez, o apertar do cinto permanecerá numa dimensão aproximada, ou até igual, ao que estava previsto - e, portanto, nada se alterará no substancial. O descontentamento continuará.
A infeliz ideia da TSU parece ter minado de vez a confiança de muitos cidadãos nos decisores políticos nacionais, e não apenas naqueles que neste momento estão no poder. A sondagem da Universidade Católica, publicada esta semana no DN, é muito elucidativa quanto a isso. A desconfiança instalou-se.
O futuro próximo dirá, ou não, se foi ultrapassada a linha limite do bom senso - e se os apupos a todos os conselheiros de Estado são, ou não, um prenúncio de um perigoso e longo afastamento da generalidade dos portugueses em relação aos senadores da República, ao Presidente, ao Governo, aos partidos. E se esse ambiente vai ou não envenenar a nossa democracia durante alguns tempo, com prejuízo para todos e cada um dos portugueses.
Esta realidade deveria impor inteligência, e limites, à luta política nos próximos tempos.
As forças de segurança estão de parabéns pela forma como têm exercido a sua ação nos últimos dias. O profissionalismo, a eficiência e a preparação para o contacto com as manifestações fizeram esquecer os problemas do Chiado, em Lisboa, há alguns meses, e contribuíram para a serenidade do protesto que tem ocupado as ruas.
IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
22/09/12
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