26/07/2012

DANIEL OLIVEIRA

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ESFOMEADOS

 É no defeso que me apercebo que vivo entre especialistas. 

Todos conhecem em pormenor os possíveis reforços. Desde que existe internet, então, fico com a sensação de que Portugal é povoado por milhões de olheiros, que há anos acompanham milhares de futebolistas por esse Mundo fora. Dizem-me que os jornais desportivos vendem mais nesta altura, quando não há jogos. Acho absolutamente natural. Quando há jogos, eu sei o que vi. Quando se compram jogadores, eu quero saber o que vou ver.

Sei, por exemplo, que Boulahrouz é amigo da cacetada. Ainda me lembro de o ter visto a dar o gosto à chuteira nas pernas de Ronaldo. Foi para o Chelsea pela mão de Mourinho, o que é uma boa credencial. Diz que vai “dar o coração ao Sporting”. E também o estômago: “Estou faminto de títulos”. De Danijel Pranjic, sei que o Bayern o usou pouco e que vem a custo zero, o que me faz sempre torcer o nariz, porque não há almoços grátis. E que, também ele, tem “fome de bola”. Já Marcos Rojo acompanhei mais. Não tanto as suas venturas e desventuras no Estudiantes e no Sparta. Mais por causa da pequena guerra de nervos com o Benfica que ajudou, já que falamos de fome, a aumentar o apetite dos sportinguistas.

Olho para esta fase da bola como olho para as campanhas eleitorais dos partidos: relativizo tudo. As certezas dos dirigentes, a ciência dos especialistas, as parangonas dos jornais, a excitação dos adeptos e, acima de tudo, a fome dos jogadores. Sei que vivo à míngua há demasiados anos. Por isso, deem, por favor, de comer a estes rapazes. Eu não me importo de ficar com as migalhas de um campeonato mais decente do que os últimos. É que, com tantas dificuldades financeiras e tanta contratação, parece que, no Sporting, não há fome que não dê em fartura.



IN "RECORD"
20/07/12

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